Comportamento

Você interrompe a fala do outro constantemente? Veja como mudar de atitude

Interrupções constantes na fala do outro podem tornar o diálogo desagradável

Por Laura Maria
Publicado em 30 de abril de 2024 | 03:00
 
 
 
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Um dos maiores poetas brasileiros de todos os tempos põe beleza no ato de falar: “Há tantos diálogos/Diálogo com o ser amado/o semelhante/o diferente/o indiferente/o oposto/o adversário/o surdo-mudo/o possesso/o irracional/o vegetal/o mineral/o inominado”, escreveu Carlos Drummond de Andrade, vaticinando o ato irrestrito de trocar ideias.

Acontece que, também no poema “O Constante Diálogo”, o escritor mineiro estabelece também a importância de silenciar quando preciso: “Escolhe (...) teu melhor silêncio. Mesmo no silêncio e com o silêncio dialogamos”, finaliza o poema publicado em 1977, no livro “Discurso de Primavera e Algumas Sombras”.

Fato é que o exercício de colocar nas palavras tudo o que se pensa faz bem para o corpo e a mente, segundo a ciência. Estudo realizado pela Escola de Medicina Grossman, da Universidade de Nova York (NYU), mostrou que manter interações sociais ajudam a retardar os efeitos do envelhecimento cerebral, como o declínio cognitivo. Tão importante quanto falar, no entanto, é ouvir o que o outro tem a dizer. Afinal, um diálogo só funciona quando há uma conversa efetiva entre as partes.

Mas nem sempre o interlocutor está disponível a escutar e interrompe constantemente o que alguém tem a dizer. O que estaria por trás desse comportamento? “Se a gente pensa no aspecto global do processo de interrupção, muitas vezes, ela é motivada por uma ansiedade da pessoa de falar a sua ideia, e, ao mesmo tempo, por uma dificuldade dessa pessoa de silenciar o diálogo mental para poder ouvir a visão ou a proposta do outro”, analisa o psicólogo e doutor em psicologia social Cláudio Paixão.

Por trás dessas duas motivações, podem existir uma série de fatores, segundo Paixão. “A pessoa pode ter uma convicção extrema sobre o que ela está dizendo ou pode se considerar extremamente bem informada sobre aquele assunto. E sobre isso há um estudo que mostra que, quanto menos eu sei de um assunto, mais eu acho que sei sobre ele. Usando uma expressão bem pitoresca, é como dizer que, quando mais idiota uma pessoa é, mais ela acha que é sábia”, acentua o especialista.

Muitas vezes, esse comportamento pode ser inofensivo, apesar de incômodo. Mas é preciso ficar atento para perceber se a interrupção torna-se uma agressão. “Quando essa interrupção é feita com o propósito, seja consciente ou inconsciente de silenciar a outra pessoa e de não dar espaço para que essa pessoa expresse as ideias dela do ponto de vista dela, eu acho que já se pode considerar isso um ato agressivo. Se eu cerceio a fala do outro continuamente, isso é um ato agressivo, mesmo que não seja percebido ou intencional”, aponta.

Nesses casos, ainda é preciso fazer um recorte por gênero, observando se o homem está praticando o manterrupting durante a conversa com uma mulher. Ou seja, interrompendo-a constantemente e de maneira desnecessária, de forma que ela não consiga concluir suas frases.

“Para quem está vendo, fica muito claro quando esse tipo de interrupção é agressiva, desqualificadora e insistente. O fundamental é que, quem esteja participando da conversa, fale: ‘fulano, agora estamos escutando a fulana e eu gostaria de ouvi-la. Espere que ela termine.’ Ou, caso a pessoa que está sendo vítima do manterrupting perceba isso, é importante que ela consiga se posicionar, dizendo: ‘espere até que eu termine minha argumentação”, indica o psicólogo.

Independentemente do gênero, Paixão reforça sobre como reagir em casos em que é interrompido. “É preciso deixar claro para a pessoa que está conversando que quer continuar a falar e tomar uma atitude proporcional à gravidade dessa interrupção. Podemos mudar o tom da voz de acordo com a importância do que se é dito”, elabora.

E se sou eu a pessoa que interrompe?

Identificar que sou eu a pessoa que interrompe frequentemente os outros durante uma conversa nem sempre é fácil. “Isso porque, normalmente, a pessoa que interrompe não tem o senso crítico de perceber essa atitude”, teoriza o psicólogo Cláudio Paixão. Nesses casos, o especialista recomenda observar a reação das pessoas ao redor.

“As pessoas começam a ignorar o que eu falo? Ou elas apontam o que estou fazendo, às vezes até de forma agressiva ou magoada? Se elas fazem isso, possivelmente eu estou interrompendo uma pessoa indevidamente”, enfatiza o psicólogo. “Mas o gesto fundamental é realmente não interromper as pessoas, a menos que seja necessário. É escutar a pessoa, prestar a atenção nos argumentos dela e, só depois que ela terminar, retomar a conversa”, sugere.

 

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