Moradores do Vale do Taquari enfrentam incertezas após alagamentos: 'Começar tudo de novo? Não tem como’

VALE DO TAQUARI (RS). Quem perdeu tudo na tragédia no Rio Grande do Sul sabe que precisa recomeçar, mas não consegue imaginar de onde tirar forças para isso. Só na região do Vale do Taquari, foram quatro enchentes em apenas oito meses. Nenhuma teve a proporção da última, que devastou bairros inteiros de cidades da região. Ainda assim, exigiram que houvesse uma reconstrução.

“Está tudo demolido. Tu não tem vontade pra nada mais. Começar tudo de novo? Não tem como”, desabafa o aposentado Antonio Eloi da Silva, de 74 anos. Ela mora com o cunhado em um casarão histórico, construído em 1915, à margem da rodovia que dá acesso à cidade de Colinas.

Do lado de fora da casa, há uma pilha de itens que terão que ir para o lixo. Colchões, roupas, móveis e eletrodomésticos, tudo conquistado com esforço por quem já não tem muito. Além dos bens materiais, são pessoas que perderam também a forma como ganhavam a vida. “Eu coloquei as galinhas pra cima, mas a água veio alta e levou tudo embora”, conta, apontando para um galpão da propriedade.  

“Nem sei falar pra você como que vai ser daqui pra frente. Ainda bem que sobrou a vida da gente. Tocar a vida pra frente. O que resta, mais nada. Tristeza”, reflete o aposentado Vilmo Stach, 81 anos. Ele disse que de sua casa, na cidade de Estrela, só ficaram os entulhos. “Foi tudo embora, não sobrou uma ripa. Não tem mais nada, não sobrou nada. Só a terra mesmo, o chão.”

A casa dele ficava no bairro Moinhos, próxima ao rio Taquari. No local, restaram apenas as bases das construções. As paredes e os tijolos todos foram derrubados pela alta do rio, que atingiu a marca de 33 metros. “Nem quero ir lá olhar. Só tristeza para o cara olhar, o que morava e o que está hoje lá”, diz, com o desalento claro no olhar.

Tanto Estrela, quanto Colinas fazem parte do Vale Taquari junto a mais de 30 cidades. A região, que fica a cerca de 100 km de Porto Alegre, foi uma das mais afetadas pelas chuvas que chegaram entre o final de abril e o mês de maio. Outras cidades do entorno são Lajeado, Roca Sales, Encantado, Cruzeiro do Sul e Arroio do Meio. Todas com danos incalculáveis.