ENTENDA

Por que Porto Alegre e cidades vizinhas estão debaixo d'água? Especialista explica

A geografia da capital gaúcha explica por que a água subiu tanto e está demorando para descer

Por Pedro Faria
Publicado em 07 de maio de 2024 | 15:55
 
 
 
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As imagens das enchentes causadas pelas fortes chuvas que atingiram Porto Alegre nos últimos dez dias vem chocando todo o país. Até a manhã desta terça-feira (7), o Governo do Rio Grande do Sul havia confirmado 90 mortes e mais de 130 pessoas desaparecidas. Ao todo, o número de pessoas desabrigadas ultrapassa os 200 mil.

Para entender o que causou toda a tragédia é preciso, primeiro, conhecer o relevo do estado, principalmente da região próxima a capital. 

Porto Alegre é cercada por uma parede de montanhas e, também, pelo mar. Toda a chuva que cai em outras regiões do estado acaba escoando nos rios próximos a cidade, como o Guaíba. A cidade acaba servindo como uma espécie de “bacia” para todo o funil de rios do estado. 

Segundo explica Rualdo Menegat, coordenador-geral do Atlas Ambiental de Porto Alegre e professor do Instituto de Geociências da UFRGS, o alto nível das chuvas em todo o estado contribuiu para o alagamento da capital. “Precisamos entender alguns fatores. O primeiro é que se chover isso tudo no oceano, não muda nada. Mas se cair isso dentro da cidade, a maneira como a água vai escoar vai produzir o impacto. As chuvas do estado fluem todas convergindo em quatro rios, que culminam no Guaíba, que fica na região metropolitana de Porto Alegre. O Guaíba é conectado com a Laguna dos Patos e esta, com o Oceano Atlântico. Se essas tempestades são acompanhadas pelas marés de tempestade, que elevam o nível do oceano, significa que a água não escoa. As águas ficam estacionadas em Porto Alegre”, explicou.

As chamadas marés de tempestade aumentam o nível também do oceano. Com isso, os rios que servem como vasão da água que chega em Porto Alegre não conseguem escoar, e a cidade é atingida pela enchente.

Outro fator que também intrigou os especialistas foram as consequências dos fenômenos El Niño e El Niña, que contribuíram para a situação atual. Nos últimos meses, a capital porto alegrense registrou recordes históricos de temperatura mensalmente, com números que não eram vistos desde a década de 80.

Para o professor, a negligência e o negacionismo de certos setores da sociedade também atrapalham na atuação preventiva em casos de tragédia. Ele também criticou a falta de alertas emitidos pelas autoridades estaduais. “Há setores que negam a emergência climática. Temos que parar com isso e agir. Falta ação. A mais importante é a educação da população, que precisa ser educada com esse novo momento”, disse.

“Em Porto Alegre os alertas não foram suficientes. Se isso não ajuda, só resta o socorro. Socorrer crianças, idosos. E isso é o último recurso, quando acontece significa que estamos derrotados. Algo deu errado e acho que não há um serviço de alertas que avisa toda a população. Isso tudo falhou e sobra apenas a tragédia”, completou o professor.

Próximos dias

Há a expectativa de que, após alguns dias de estiagem, o Rio Grande do Sul volte a ser palco de novas chuvas. De acordo com a MetSul Meteorologia, um novo evento de chuva excessiva, com volumes muito altos em parte do estado, podem afetar algumas das áreas mais castigadas por inundações e deslizamentos de terra.

Uma frente fria, associada a um ciclone extratropical na costa da Argentina, vai avançar pelo estado nesta quarta-feira (8) com chuva. Haverá vento Norte quente e seco forte antes da chuva em várias cidades.

Apesar disso, na grande maioria das cidades, a chuva não terá altos volumes. O MetSul alerta para as áreas de relevo, que já estão sob risco geológico extremo, pois qualquer precipitação pode causar mais deslizamentos. Já o campo de vento intenso do ciclone permanecerá em alto mar e sem afetar o estado.

Na quinta-feira (9), o tempo melhora na maioria das cidades gaúchas. Porém, o rio Guaíba na Lagoa dos Patos, em Porto Alegre, deve receber novos ventos, que vão gerar elevação mesmo que temporária do nível, já em patamar crítico. 

Na sexta-feira (10), o tempo volta a ficar instável na maioria das regiões com chuva. A instabilidade persiste no fim de semana e durante o começo da semana, o que vai levar aos altos volumes de chuva. O tempo melhora entre terça e quarta da semana que vem com a chegada de uma massa de ar polar.

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