São Paulo. A artesã Rosângela Batista Tatin, 39, sempre se virou bem com o fato de ser adotada. Mas, quando a mãe adotiva morreu, sentiu vontade de saber mais sobre suas origens e as de sua família biológica. Em abril de 2015, Rosângela contou sua história em um grupo fechado de Facebook, onde deixou todos os dados de sua certidão de nascimento, e poucos dias, conseguiu o que procurava.
Assim como Rosângela, centenas de filhos adotivos têm recorrido a grupos fechados e páginas na rede social para pedir informações do paradeiro de seus pais biológicos. A reportagem conseguiu identificar ao menos dez grupos do gênero, com entre mil e 3.000 membros, mas seus criadores dizem que há mais de cem na rede.
As páginas têm em comum depoimentos emocionados daqueles que tentam entender mais de seu passado. Quem as controla são usuários da rede, voluntários de todo o país, de advogada a bancária aposentada. Sem cobrar nada, os grupos fazem uso de ferramentas virtuais que usam cadastros comerciais para ajudar na localização.
Rosângela não esperou nem um dia para ligar para o número que recebeu. “Aqui é a filha da senhora”, disse, sem nem saber direito quem estava do outro lado.
Apesar da distância de quase 800 km – a filha mora em Mariópolis, no Paraná, e a mãe, em Itajaí, Santa Catarina –, elas marcaram um encontro que aconteceria meses depois. Rosângela conta que a mãe biológica, Lorena, confirmou a história que ela já sabia: que havia sido entregue para adoção a pedido do pai de sua mãe.
Dicas. Em várias páginas usadas por filhos adotivos, a reportagem encontrou duas mulheres que publicam dicas e oferecem informações. “Usamos sites pagos, de comércio, normalmente”, conta uma das mulheres que pediu para não ser identificada.
A cada nova postagem, ela pede um e-mail e envia uma série de anexos com dicas de como localizar informações dos pais, um documento para pedir dados em hospitais e até explicações sobre como ir à Justiça.
Elas também usam usados dados de órgãos públicos, como o do Tribunal Superior Eleitoral. “Tudo dentro da legalidade”, contaram
Promotora alerta para uso de dados
São Paulo. A ação dos grupos é vista com ressalvas pela promotora Eliana Vendramini, do Programa de Localização e Identificação de Desaparecidos (Plid). Para ela, ainda que as intenções sejam boas, a divulgação de informações não autorizadas pode configurar crime. “Alguém pode pedir os dados, por exemplo, para querer resolver desavença. São informações sigilosas”, disse.