O hotel Tivoli Mofarrej, nos Jardins (zona oeste de São Paulo), negou na manhã deste sábado (29) que tenha barrado o o neurocientista Carl Hart.
Imagens do circuito interno apresentadas à "Folha de S.Paulo", jornal que denunciou o caso, confirmam que, até entrar em seu quarto, Hart não foi abordado por funcionários do estabelecimento e que ele andou livremente pelo saguão do hotel.
As gravações mostram o palestrante chegando ao hotel acompanhado de um homem, na manhã de quinta. Durante a entrada e a passagem deles pelo saguão e pela área do evento, a circulação dos dois ocorre sem impedimentos.
Hart, que está vestido com camiseta, vai ao banheiro que fica no mesmo ambiente em que já ocorria o evento para o qual havia sido convidado. Até este momento, ele é acompanhado de perto por um homem que estava de terno e havia chegado com o cientista ao hotel. A administração do hotel nega que o homem fosse funcionário do local. O homem aguarda a saída de Hart do banheiro.
Depois de alguns minutos, Hart cumprimenta o homem que o havia acompanhado e os dois voltam ao saguão do hotel buscar as malas do cientista. Neste momento, os dois são abordados por um organizador do evento.
Não é possível ouvir o que é conversado, mas, em seguida, Hart se dirige à recepção do hotel ainda com a ajuda do homem que o acompanhava, onde faz o check-in. Logo depois, ele segue sozinho quarto e o homem que o acompanhava vai embora.
"Nós tivemos que analisar as imagens para entender o que havia acontecido", disse Renaud Pfeifer, gerente geral do Hotel Tivoli. "Mas, segundo as imagens, em momento algum o Hart foi abordado por seguranças ou impedido de entrar no hotel".
O hotel disse ter entrado em contato com o hóspede que teria dito que não se sentiu constrangido.
Na noite de sexta-feira, a "Folha" entrou em contato com Hart na noite de sexta (28) para confirmar informações que circulavam sobre o suposto constrangimento ao neurocientista.
Quando questionado sobre se ele havia sido impedido de entrar no hotel, o pesquisador respondeu por e-mail: "É verdade, mas foi [algo] menor". Hart, porém, não deu detalhes do que ocorreu na ocasião.
Após ter acesso às imagens do circuito interno do hotel, a "Folha" voltou a entrar em contato com o cientista, mas ainda não obteve resposta.
Carl Hart
Primeiro neurocientista negro a se tornar professor titular da Universidade de Columbia, em Nova York (EUA), Carl Hart, 48, esteve em São Paulo para uma palestra a convite do Instituto Brasileiro de Ciências Criminais (IBCCrim), em São Paulo.
A palestra de Hart no evento foi sobre como a guerra às drogas tem sido usada para atingir certos grupos sociais mais vulneráveis, entre eles, jovens pobres e negros, em lugares como o Brasil e os EUA.
Durante sua palestra, Hart percebeu que era o único negro no auditório no qual falou para advogados criminalistas e juízes. "Vocês deveriam ter vergonha disso", disse ele à plateia.
Em entrevista, Hart, que pesquisa drogas há 20 anos, disse que sua percepção sobre o assunto mudou drasticamente quando começou a "olhar para quem estava preso por crimes ligados às drogas nos EUA".
"Apesar de os negros serem menos da metade dos usuários de drogas nos EUA, eles compõem muito mais da metade dos presos por causa de drogas. Um em cada três jovens negros americanos serão presos pelo menos uma vez na vida por causa das leis de drogas", explicou. "Ou seja, a guerra às drogas tem sido usada para marginalizar os pobres."