A rejeição à participação de partidos políticos e à presença de bandeiras e cartazes em referência às siglas ascendeu um debate sobre os possíveis rumos dos protestos que tomaram as ruas do Brasil. Na avaliação dos cientistas políticos, essa postura dos manifestantes é preocupante e pode ditar um viés autoritário, já que a existência dos partidos é uma das bases da democracia.
Durante os protestos da última semana, jovens identificados com as legendas e centrais sindicais foram vaiados e até agredidos sob os gritos de “oportunistas” e “aqui não tem partido”. Bandeiras do PT, PSTU e da CUT foram queimadas.
O cientista político Malco Camargos vê um contrassenso quando os manifestantes pedem políticas públicas enquanto hostilizam os partidos. “É uma guinada contra a democracia, que não existe sem partidos. No Brasil, há mais de 30 siglas, e essas pessoas dizem não se identificar com nenhuma delas. É uma rejeição contra a democracia representativa, mas, sem ela, só nos resta o totalitarismo e a ditadura”, acredita o professor da PUC Minas.
Camargos avalia ainda que a reação contra centrais sindicais é ignorar a história do Brasil e a luta dos trabalhadores.
O cientista político da Universidade Federal de Juiz de Fora Paulo Roberto Figueira Leal pondera que, com essa atitude, os jovens rejeitam a participação de pequenos partidos que lutam pelos mesmos objetivos. “O movimento apartidário, sem o comando de um partido, é positivo. Mas não há como imaginar que as demandas desses grupos sejam atendidas sem a existência das legendas”, disse.
O professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Moisés Gonçalves observa a diversidade do movimento e o descrédito em relação às instituições, incluindo as siglas. “O medo também é do oportunismo. A organização de tudo é virtual, por isso, é complicado um partido ou uma personalidade querer ser porta-voz”, disse.
O subsecretário de Estado da Juventude e membro da Turma do Chapéu, Gabriel Azevedo, ouviu vaias e gritos de “oportunista”, na última quinta-feira. Preso em um engarrafamento, ele resolveu descer do carro e acenar para a multidão, mas não foi bem-recebido.
Sindicatos. Já os sindicatos e movimentos sociais têm encontrado espaço nas ruas da capital mineira. Na última quinta-feira, faixas de diversos grupos organizados pediam melhora na saúde, educação e o fim da corrupção no país.
O Sindicato Único dos Trabalhadores em Educação (Sind-UTE) e o Sindicato dos Servidores da Polícia Civil (Sindpol-MG) tiveram o apoio de manifestantes, que entoaram gritos de ordem em favor das categorias.
As 300 famílias da Ocupação Eliana Silva, no Barreiro, aproveitaram para reivindicar a instalação da infraestrutura na área onde já ergueram 250 casas. O Sindicato dos Rodoviários de Belo Horizonte e Região também deu visibilidade a uma lista de reivindicações, como a redução da jornada de trabalho diária de seis horas e 40 minutos para seis horas, e o fim dos ônibus sem cobrador. (Com Ana Paula Pedrosa)
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“Rejeição a partidos pode ser retrocesso”
Para especialistas, impedir a participação de siglas vai contra a democracia
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