A combinação de calor e falta de chuva pode levar o país ao racionamento de energia, segundo especialistas. “As autoridades dizem que não. Só que o apagão mostrou que o nosso sistema está no limite. O racionamento deve acontecer, mesmo que seja vivenciado de uma forma velada”, diz o professor de planejamento energético da Universidade Fumec Virgilio Almeida Medeiros. E, além do impacto no dia a dia das pessoas, eles destacam que a dificuldade de manter o fornecimento de energia tem impactos nos investimentos no país.
O coordenador do curso de ciências econômicas da Newton Paiva, Leonardo Bastos Ávila, afirma que a falta de energia desestimula investimentos. “O apagão desta semana mostra que não temos infraestrutura para ofertar”, diz.
Para ele, o governo deveria ter estimulado o uso de outras fontes de energia, já que a redução do nível dos reservatórios já vinha acontecendo anos antes e se tornou mais visível no ano passado.
Travado. Medeiros conta que um conjunto habitacional perto de Belo Horizonte, que está pronto, está parado, já que o fornecimento de energia só é garantido no prazo de um ano e meio. “Se o país não tem energia, não tem como investir. Não tem como ele crescer. E a situação só não está pior devido ao fato de que Brasil não vem crescendo. Se a situação fosse outra, com o país crescendo a taxas expressivas, estaríamos com o dilema, para aumentar a produção das indústrias, teríamos que ficar sem energia”, observa.
Ele ressalta que diante do cenário da falta de chuvas, as térmicas se tornaram essenciais e não podem ser desligadas. “O problema é que elas têm caldeiras que precisam de manutenção”, diz.
As medidas de ajuste fiscal anunciadas recentemente, somadas ao risco de limitações no fornecimento de energia, podem fazer o país crescer menos em 2015, na avaliação do Banco Fibra. “Haverá impacto no PIB”, disseram os economistas da instituição.
O professor de economia da Fumec Fernando Nogueira também aposta no racionamento para 2015. “O consumidor pode se preparar”, diz. Ele lembra que a situação do sistema elétrico não pode ser alterada no curto prazo. “Leva tempo para recuperar os reservatórios”, diz.
O sócio da Enecel Energia, Raimundo de Paula Batista Neto, afirma que é possível outros apagões no mesmo patamar do que aconteceu nesta segunda ou até mesmo de dimensões maiores. Para ele, o que aconteceu na segunda-feira confirma que o sistema chegou no limite da reserva, que é resultado da falta de planejamento.
O presidente da Trade Energy, Walfrido Ávila, destaca as limitações do sistema elétrico nacional. “É como se você estivesse dirigindo um carro 1.0 a 140 quilômetros por hora e tivesse que acelerar. Se fosse um carrão, uma Mercedes, você conseguiria chegar a 200 Km/h. Mas com um carro 1.0 você já está no limite”, disse.
Deus
Ajudinha. O ministro Eduardo Braga admitiu nesta terça que o modelo energético precisa de ajustes e completou: “Deus é brasileiro e temos que contar que ele vai trazer umidade e chuva”.