O dólar alto não prejudica apenas quem está com viagem marcada para o exterior, ou empresas que dependem de insumos importados, ou ainda aquelas companhias que têm dívidas cotadas na moeda norte-americana. A escalada do dólar, verificada principalmente em julho, pressiona os preços de vários produtos consumidos no dia a dia pelo brasileiro e tem impacto direto na inflação.
O dólar fechou o mês de julho a R$ 3,42, com alta acumulada em um ano de 52%. Claro, essa valorização começa a ter seus efeitos mensurados. Nas alturas, a moeda norte-americana reflete diretamente na vida do cidadão brasileiro, como explica o professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV) Marcus Vinícius Soares. “Os preços no país já estão sendo remarcados semanalmente, ou pela alta da inflação ou pela valorização do câmbio”, informou o economista. Para fugir do preço salgado dos importados, engana-se quem pensa em cortar bebidas, como vinhos, whisky, ou deixar de lado a sonhada viagem ao exterior.
O preço do pãozinho, produto consumido todos os dias pelo brasileiro, já sofreu uma alta de 16% neste ano, em razão da farinha de trigo, um produto importado. Na padaria Nutrivida, em Betim, na região metropolitana de Belo Horizonte, esse foi o reajuste, segundo a proprietária Vânia Viana Barros. “O saco de 50 kg aumentou três vezes só em 2015. Não posso mais subir o preço, porque vou perder a clientela. O jeito é absorver esse custo”, explicou. Para se ter uma ideia do prejuízo da comerciante, com a quantidade da farinha que se usava para produzir 1.000 pães, hoje só se fabrica 750. Além do pão, todos os produtos que têm base na farinha, como biscoitos e macarrão, devem encarecer.
Para o presidente do Sindicato e Associação Mineira da Indústria de Panificação (Amipão), José Batista de Oliveira, o aumento médio do pão em Minas ficou na casa dos 8% também por causa do reajuste da energia elétrica. Em Minas Gerais, a energia já subiu duas vezes neste ano, sem contar a bandeira tarifaria, que também passou a ser cobrada.
A valorização da moeda norte-americana está exposta nas gôndolas dos supermercados. Alimentos como bacalhau, azeite e bebidas de outros países também sofrerão o impacto. De acordo com o presidente da Associação Brasileira dos Importadores e Exportadores de Vinho, Adilson Carvalhal Júnior, uma nova tabela de preços está sendo preparada para setembro. Uma previsão, segundo ele, é que os produtos fiquem cerca de 8% mais caros até o fim do ano. “Ninguém estava preparado para uma elevação tão grande do dólar”, disse.
Segundo pesquisas da FGV/Instituto Brasileiro de Economia (Ibre), os efeitos da valorização do dólar surgem por duas razões: por causa do aumento dos preços importados, que são cotados em dólar e por isso ficam mais caros em reais, e devido à maior rentabilidade no mercado internacional que os exportadores brasileiros encontram, fazendo com que os produtos também sejam valorizados internamente. Um ponto positivo, segundo o secretário Nacional de Comércio Exterior, Daniel Godinho, é que o dólar alto garante a competitividade das empresas brasileiras. “É uma boa oportunidade para exportadores, que se beneficiam com o dólar apreciado”, disse.