Quando você pensa em banco, quais os primeiros que vem à mente? Possivelmente, os mais conhecidos. A lista não vai ser grande, deve variar de quatro a cinco instituições financeiras. E são grandes as chances de serem as seguintes: Itaú Unibanco, Bradesco, Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal e Santander. Dados atuais o Banco Central apontam que a cada R$ 5 movimentados no Brasil, R$ 4 passam pelos cinco maiores bancos. O R$ 1 que restou é partilhado entre cerca de 150 instituições, muitas atuando em áreas específicas, como é o caso de empréstimos para médias empresas e financiamento de veículos.
O Brasil é um dos países de maior concentração do setor financeiro, conforme dados do Fundo Monetário Internacional (FMI). Segundo levantamento de 2014, considerando os três maiores bancos de cada país, a média mundial de concentração de mercado é de 40%. No Brasil, ela é 55%, percentual bem maior que o verificado em 2006, de 35%.
A concentração intensa contribui, conforme analistas, para que os juros cobrados sejam altos, bem como o preço dos serviços bancários, com qualidade que deixa a desejar. “A ausência – ou baixa concorrência – não é boa para o consumidor, independentemente do setor”, afirma o professor do Ibmec/MG Paulo Pacheco.
Ele observa que o crédito caro é influenciado pelos poucos players que dominam o mercado bancário, além de outras variáveis, entre elas a inadimplência alta e o risco jurídico. “E ainda tem a participação do governo na composição do preço do dinheiro. Afinal, ele recorre ao mercado e emite títulos públicos”, diz.
Modelo. Para o professor, o modelo de concessão de crédito deveria ser revisto. “Assim como acontece nos Estados Unidos, ele deveria levar em conta o perfil de cada consumidor, o credit score. Da forma como é hoje no Brasil, o bom pagador paga pelo mau pagador”, analisa.
O professor de economia do Centro Universitário Newton Paiva Cleyton Izidoro diz que, assim como acontece com os setores de aviação e telefonia no país, o segmento bancário é um oligopólio concentrado, ou seja, com poucas empresas atuando no ramo. “Se não há concorrência, o consumidor tem que aceitar as condições que são oferecidas. O preço é determinado pelo jogos da oferta e demanda”, observa.
Além do reflexo da falta de concorrência no tamanho dos juros, o especialista ressalta que a recessão contribui para encarecer o crédito, que está mais escasso. “Fora a questão do preço, a baixa disputa no mercado bancário ajuda a reduzir a qualidade dos serviços oferecidos. Aliás, eles acabam sendo parecidos”, diz.
Brasil não é exceção, diz Febraban
A crise 2008-2009, que teve como marco a quebra do banco Lehman Brothers, o quarto maior dos Estados Unidos, ajudou a concentrar o setor bancário, segundo o diretor de regulação e riscos da Federação Brasileira dos Bancos (Febraban), Rubens Sardenberg. “Algumas instituições financeiras foram absorvidas por outras”, observa.
Para ele, o setor bancário é normalmente concentrado. Dessa forma, o Brasil não é uma exceção. E o motivo, conforme ele, é que a atividade é intensiva de capital.
Já o economista Roberto Troster, ex-economista chefe da Febraban, afirma que a concentração ajuda a reduzir os custos e dá ganho de escala para o setor. “A concentração não significa necessariamente a prática de juros altos. No Chile, há menos bancos que no Brasil e os juros são mais baixos”, observa.