Com a renda corroída pela inflação, o brasileiro tem mudado os hábitos e reduzido o ritmo do consumo fácil. Em vez de comprar um produto novo toda vez que um que já está no armário estraga ou fica com cara de velho, a prática em boa parte dos lares, agora, é consertar. Com isso, tem empresário rindo à toa. Quem trabalha no segmento de pequenas reforma não tem reclamado da tão falada crise, que passa longe do setor.
Sócia de uma franquia da Sapataria do Futuro – que hoje tem um conceito amplo de reformas de roupas e calçados, tinturaria e lavanderia –, Rosalina Cipriano conta que a procura por consertos de roupas aumentou cerca de 30%, na comparação com os meses de novembro e dezembro de 2015. “Pela primeira vez na nossa empresa, tivemos que terceirizar os serviços de costura para dar conta da demanda do fim do ano”, comemora.
A loja, que emprega 12 pessoas, tem seis costureiras fixas e abriu vaga para mais uma. “Reforma de roupa é o meu maior serviço. O cliente está consertando peças que antes estavam encostadas no armário”, comenta Rosalina.
Quem também está rindo à toa é a dona da Alpha Bags, no bairro Floresta, em Belo Horizonte. “Meu movimento aumentou quase 100% entre dezembro e janeiro”, esclarece Naiara Marques. Especializada em consertos de malas, bolsas e mochilas, a loja teve um faturamento cerca de 50% maior, e o carro-chefe é a assistência técnica das principais marcas de malas do país.
“Mala é considerada uma coisa cara mesmo, e oferecemos bons preços. Ela fica novinha. Fazemos também higienização a vapor”, diz. Mas o conserto de mochilas escolares tem surpreendido Naiara: “O dinheiro está mais curto mesmo, e percebo que muitas mães, que não pensavam em aproveitar a mochila de um ano para outro, vêm aqui falando que é uma coisa que encareceu muito”.
No Hospital dos Brinquedos, no bairro Gutierrez, o proprietário Renato Sales conta que janeiro foi muito bom. “Meu movimento cresceu em torno de 25% na comparação com o ano passado. Não posso reclamar”, diz ele, que tem uma clientela fiel. Uma delas é Dora Sueli Barbosa dos Santos, que levava os brinquedos dos filhos para consertar, e agora leva os dos netos. “Com a crise, está todo mundo consertando tudo mesmo. Brinquedo é uma coisa muito cara. Se dá, tem que consertar”, defende Dora.
Sales não pensa em reajustar os preços, apesar do aumento de custos com aluguel, luz e salários dos três funcionários. “Eu atendo a classe AA, A, B, C. Meus preços vão de R$ 30 a R$ 1.500, que é o conserto de um robô de limpeza”, diz Sales.
Dicas para o negócio. O coordenador do curso de ciências econômicas da Newton Paiva, Leonardo Bastos Ávila, explica que em determinados nichos – como esse de pequenas reformas – a tendência é mesmo crescer em período de crise. Mas é preciso ter a mesma visão de um grande negócio. “É preciso aproveitar o momento propício para construir uma carteira de clientes”, ensina.
Reformas em casa estão em ritmo lento
Na Engemad Construtora e Reformas, o gerente geral Ivan Madrona confirma que o movimento neste ano já esta entre 30% e 40% menor que em 2015. “Tem dia que nem orçamentos fazemos. O cliente está perdendo o emprego e não tem como contratar nem uma pequena reforma”, diz.