Até dois meses atrás, Denise Cristina Rosa trabalhava das 16h às 22h30 em um trailer de sanduíches em Contagem, na Grande Belo Horizonte. Hoje, ela continua trabalhando no mesmo trailer, mas a jornada é bem maior – começa por volta das 6h e só termina depois da meia-noite, quando o relógio já marca o dia seguinte. A grande mudança está no status de Denise: ela deixou de ser funcionária e se tornou a dona do negócio. “É mais cansativo do que eu imaginava”, diz ela, que tem o marido, Sérgio Augusto de Araújo, como sócio.
Assim como ela, muitos empreendedores só descobrem na prática os desafios que o novo negócio traz. Pesquisa do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas em São Paulo (Sebrae-SP) mostra que é só depois de abrir sua empresa que muitos percebem que não basta apenas uma boa ideia para ganhar dinheiro. E que ter tempo livre e tirar férias não é tão fácil quanto imaginavam antes.
O levantamento também aponta que ser dono não significa, necessariamente, trabalhar menos. Enquanto a jornada padrão do trabalhador assalariado é de oito horas por dia, a de micro e pequenos empresários pode durar o dobro. De acordo com o estudo, antes de empreender, 57% acreditavam que o dono trabalhava menos do que o empregado. Depois, o índice baixou para 43%.
Denise e o marido estão no grupo dos que descobriram que ser empreendedor significa trabalhar mais, mas com um grande diferencial. “Estamos investindo em uma coisa que é nossa, e nós vemos o resultado do nosso esforço”, pondera Sérgio de Araújo.
Desde que assumiu o trailer, o casal modificou e ampliou o cardápio, e os resultados já começaram a aparecer. Com novas opções de recheio, que incluem presunto, azeitona, frango e bacon, a venda diária de cachorro-quente subiu de 20 para 50 unidades. O sanduíche é o carro-chefe do negócio, que tem ainda espaguete e pão com pernil. A rotina inclui fazer compras, preparar molhos e gerenciar as contas.
O faturamento é de cerca de R$ 450 por dia, o suficiente para pagar as contas e amortizar o empréstimo de R$ 15 mil feito para comprar o trailer. “Por enquanto, a gente não tem salário”, diz Denise.
Sérgio elaborou uma planilha para controlar receitas e despesas. Ele calcula que deve recuperar o investimento em um ano. Depois, o casal poderá começar a planejar uma retirada mensal e férias.
Idade. Pessoas entre 31 e 40 anos são 33% dos microempreendedores do país. Em seguida, estão os de 21 a 30 anos (21,45%). Os jovens de até 20 anos são minoria (1%).
Trabalhar em casa é desafio
FOTO: Fred Magno |
Na casa de Thaís e Márcio, família e empresa se confundem |
Na casa de Thaís Lôbo e Márcio Luiz de Castro, rotinas doméstica e de trabalho se misturam. Há cinco anos, eles deixaram seus respectivos empregos em uma editora para criar a Dinoleta, empresa de ilustrações personalizadas. “Entre um dever de casa (dos filhos), o almoço e colocar roupas para lavar, a gente vem para o computador e responde aos e-mails, faz as ilustrações, conversa com cliente. Os horários são misturados, e a gente nunca sabe quanto tempo gasta para o trabalho”, explica Thaís.
Mesmo com essa rotina, o casal já consegue ganhar mais do que antes e se organizou para ter 30 dias de férias por ano, além de estar sempre disponível para as demandas dos filhos Pedro, 11, e Beatriz, 6.
Para o analista do Sebrae-MG Bismarck Esteves, trabalhar em casa traz ainda mais desafios, pela dificuldade de separar tarefas e despesas pessoais e profissionais. Ele aconselha que quem optar por essa modalidade deve tentar estipular um expediente de trabalho e delimitar um espaço físico. “É importante até colocar uma roupa ‘de trabalho’, mesmo estando em casa”, diz.