Financiar um imóvel está cada vez mais difícil para a classe média brasileira. “No caso de financiamentos, o que a gente vê é que os bancos, incluindo a Caixa, estão mais criteriosos na hora de liberar o crédito, mas é uma questão de análise. As linhas dos imóveis da classe média estão na faixa de R$ 200 mil a R$ 750 mil. O problema é falta de recurso”, afirma o vice-presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil no Estado de Minas Gerais (Sinduscon-MG), Geraldo Jardim Júnior.
O crescimento constantes de saques da poupança e do FGTS é um dos fatores que explicam a diminuição do recurso. Linhas de crédito como o pró-cotista, que utiliza o fundo garantidor do trabalhador e o Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE), que usa valores da caderneta de poupança, estão cada vez mais esvaziados. Em janeiro de 2016, a caderneta de poupança teve uma saída de recurso recorde. As retiradas superaram os depósitos em R$ 12,03 bilhões. O FGTS também tem minguado. Em dezembro de 2015, o Fundo teve uma retirada de R$ 10,07 bilhões. No mesmo período de 2014, o valor foi de 8,34 bilhões.
Esse aperto fez com que diversos clientes que buscaram financiamento com o pró-cotista tivessem a assinatura de seu contrato adiada, mesmo aprovado, por falta de recursos. “Meu contrato está aprovado desde dezembro de 2015, mas não consegui assinar”, conta o analista de logística Welton Assis Ribero, 35. Agora Welton espera que a liberação de R$ 8,2 bilhões para o pró-cotista, confirmada anteontem pelo Conselho Curador do FGTS, resolva o problema.
Os bancos privados acabam aparecendo como uma alternativa, porém, as taxas de juros ainda são altas na comparação com o pró-cotista. “Os bancos privados utilizam seus recursos vindos dos próprios financiamentos para viabilizar novos negócios. Eles não utilizam recursos de outros fundos como os bancos públicos”, explica Jardim Júnior.
“Eu busquei o Santander e mesmo tendo conta, as taxas de juros eram muito maiores do que no pró-cotista”, conta o gestor comercial André Trabach Ribeiro, de Uberlândia. Ele também teve seu contrato aprovado em dezembro de 2015 e espera que o recurso seja liberado com o novo aporte.
Gerente de vendas do grupo Patrimar, Fenelon Matos vê nos bancos privados uma opção. “Dependendo do relacionamento com o banco é possível conseguir taxas de juros até melhores do que nos públicos”, diz.
Quem desiste paga taxas mais altas
Minientrevista - Vinicius Costa, Assessor jurídico da ABMH
Toda proposta de contrato aceita pelo receptor vincula o ofertante ao seu cumprimento. Cabe ao interessado buscar seus direitos exigindo o cumprimento da proposta de contrato, que na prática seria a liberação do financiamento nos moldes aprovados. A ABMH tem recebido reclamações diárias de todo o Brasil. A orientação que tem sido dada é que o candidato ao financiamento tenha em mãos a documentação para comprovar a aprovação do financiamento e, a partir daí, tentar resolver amigavelmente com a Caixa ou então que busque no poder judiciário o cumprimento.
Os riscos existem sempre que não há planejamento e também para as hipóteses em que o valor investido não tem retorno. O valor disponibilizado pelo FGTS para novos financiamentos aos bancos é remunerado por estes até a contratação por um mutuário. Depois, o que o mutuário paga ao banco serve para remunerar o banco e restabelecer o valor emprestado.
A poupança também está diminuindo. Isso coloca em risco o SBPE também?
Sim, pois se a fonte do crédito começa a se tornar escassa, a tendência é que medidas mais enérgicas sejam adotadas (taxa de juros mais alta, entrada maior) para desacelerar a busca pela modalidade. Em contrapartida outras modalidades passam a se tornar mais atraentes levando, então, a uma procura maior.