A volta dos voos regulares de grande porte para o aeroporto da Pampulha promete aquecer o mercado imobiliário no entorno, mas apenas para os imóveis comerciais. No caso dos empreendimentos residenciais, mesmo se houvesse demanda, eles esbarrariam nas restrições da portaria 957 do Comando da Aeronáutica, que impõe limites mais rigorosos de altimetria para construção de prédios. “A região vai passar a ter mais movimento e, então, vai atrair mais investimentos, pois um aeroporto tem todo um ecossistema integrado que precisa de lojas, restaurantes e hotéis”, afirma o presidente da incorporadora My Mall e da construtora Sancruza, Eduardo Negrão de Lima Júnior.
Na avaliação do diretor de legislação urbanística do Sindicato da Indústria da Construção Civil de Minas Gerais (Sinduscon-MG), Athos Martins Bernardes, embora a volta dos voos para Pampulha seja promissora para os imóveis comerciais, os limites de construção da portaria 957 vão acabar neutralizando esses efeitos positivos.
“Se fosse para construir prédio, o dono de uma casa no entorno conseguiria vender por um bom preço, e a construtora teria lucro vendendo os apartamentos. Mas, para construir lojas de apenas um pavimento, já não vai valer tanto a pena. É uma matemática que não fecha, porque é mais difícil alguém querer vender sua casa por um preço baixo”, analisa Bernardes.
De acordo com a Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária (Infraero), o terminal está pronto para receber até 650 passageiros por hora, entre embarques e desembarques. Como o horário de funcionamento previsto é das 6h30 às 22h30, seriam mais de 10,5 mil passageiros por dia.
O proprietário da imobiliária Santa Mônica, Márcio Eduardo Pinheiro, acredita que, para locação comercial, o retorno das operações terá impactos positivos. “Vai melhorar muito, porque aquela região estava meio morta. O aeroporto só tem uma lanchonete. Agora, vai ser preciso ter restaurantes e outras estruturas para empresas que alugam carro, por exemplo”, observa. Já para a locação residencial, Pinheiro acha que o mercado vai ficar mais difícil em bairros localizados na rota dos aviões. “Em bairros como Santa Amélia, Copacabana e Jardim Atlântico, acho que o aluguel vai cair, porque o barulho é muito grande. Em outros bairros do entorno, vai depender da oferta e da demanda”, destaca Pinheiro.
O barulho e os impactos no trânsito, com o aumento do fluxo, são pontos negativos apontados por associações de moradores da Pampulha.
Frase
“Sem entrar no aspecto técnico, se Pampulha tem ou não estrutura para esses voos, com certeza a região vai ficar mais em evidência. Isso será bom para o mercado imobiliário, pois existe todo um ecossistema que gira em torno de um aeroporto, que vai precisar de imóveis comerciais.”
Evandro Negrão Lima. Jr
Presidente da Sancruza
Prefeitura não decide mais
Até a publicação da portaria 957 – que impôs limites mais rigorosos para a altura das construções com o objetivo de proteger o espaço aéreo –, as prefeituras eram responsáveis pela liberação dos alvarás de construção. Agora, essa anuência depende do Centro Integrado de Defesa Aérea e Controle de Tráfego (Cindacta 1). O setor da construção reclama que a medida elevou a burocracia e travou investimentos. O segmento luta para devolver o aval à prefeitura, mas, segundo a especialista em direito urbanístico Maria Fernanda Pires, a volta dos voos de grandes porte para o aeroporto da Pampulha vai dificultar ainda mais essa batalha.
“Essa portaria interfere na competência municipal. A liberação para empreendimentos sempre foi feita pela prefeitura e nunca houve registro de acidentes. Agora isso foi federalizado. Quando não tinha voos na Pampulha, esse era o principal argumento contra a portaria. Agora, acredito que ficará mais difícil. Mas os municípios têm muito mais condições de decidir do que a União”, enfatiza.
Portaria 957
O que diz: publicada pelo Comando da Aeronáutica, dispõe sobre as restrições impostas por todos os planos básicos ou específicos de proteção aos objetos projetados no espaço aéreo
Objetivo: para elevar a segurança do espaço aéreo em todo o Brasil, foram estipulados limites de altimetria, ou seja, quantidade de andares. Quanto mais alta a região, maior é a restrição