Na madrugada de ontem, a sétima arte brasileira perdeu um de seus nomes mais ousados e dinâmicos. Guaracy Rodrigues, o Guará, estava em mais uma de suas temporadas em casa de amigos, no Rio de Janeiro, quando morreu dormindo, "muito provavelmente em decorrência de um infarto cardíaco", informaram os irmãos Gláucia e Sérgio Rodrigues, muito abalados pela notícia repentina.
Aos 65 anos, o belo-horizontino ostentava uma carreira sempre efervescente. "Não sei precisar realmente, mas, entre as décadas de 60 e 80, ele deve ter participado de pelo menos metade dos filmes produzidos aqui no Brasil", diz o cineasta mineiro Rafael Conde, que trabalhou com Guará Rodrigues em três produções: os curtas "Hora Vagabunda" e "O Homem que Bota Ovo"; e o longa-metragem "Samba-Canção", em que Guará era mais do que um personagem.
"Ele era homenageado nesse filme", conta o diretor. As atividades cinematográficas de Guará iam além da atuação.
"Ele teve uma participação fundamental na escola do cinema marginal. Foi, junto com gente como Júlio Bressane e Neville d"Almeida, um dos responsáveis pelo movimento de cinema no Brasil. A gente fica assustado de não poder mais contar com ele", lamenta o cineasta.
Um de seus trabalhos mais célebres surgiu justamente da parceria com o diretor carioca Júlio Bressane. "Foi assistindo "Memórias de um Estrangulador de Loiras", um filme muito inusitado, que eu comecei a me encantar com o trabalho dele. Isso há muito mais de 20 anos. Logo depois de assisti-lo no cinema, coincidentemente o encontrei numa boate de São Paulo, puxei assunto e logo ficamos amigos", relembra Luiz Nazário, cineasta e maior documentarista da obra de Guará Rodrigues.
"Foi um choque. Há menos de três semanas terminei meu último filme, "Filoctetes", uma tragédia de Sófocles, que, estrelada por ele, ficou engraçadíssima. Ele estava bem de saúde, foi algo totalmente inesperado", desabafa Nazário, claramente emocionado.