MADRI, ESPANHA. Em meio ao luto pela morte do ex-presidente israelense Shimon Peres, 93, sua imagem de “homem da paz” foi contestada nessa quarta-feira (29). Alguns comentaristas, em especial em veículos dedicados ao Oriente Médio, se lembraram dele não por sua participação nos Acordos de Oslo, em 1993, mas por sua responsabilidade nos conflitos regionais e no programa nuclear israelense.
As críticas não surpreendem. Peres estava envolvido na política israelense há décadas, e ocupou os postos mais altos do país. Em sua vida, teve tempo de mudar de rumo em mais de uma ocasião. A revista digital israelense-palestina “+972”, que tem versão em hebraico, descreveu o ex-presidente como “o homem que participou de quase todas as decisões ruins na história de Israel”.
O texto foi ilustrado por uma foto de Peres segurando uma arma durante uma visita a uma unidade de combate ao terrorismo em 2011.
O autor, Haggai Matar, criticou o ex-presidente, por exemplo, por ter incentivado a política de assentamentos na Cisjordânia. Os colonos são considerados, hoje, um dos entraves às negociações entre Israel e palestinos.
O site Middle East Eye publicou um obituário em que descreveu Peres como “arquiteto da ocupação”.
O texto citou um porta-voz do grupo terrorista palestino Hamas, Sami Abu Zuhri, que teria dito que a morte de Peres era “o fim de uma fase na história da ocupação e o começo de uma nova fase de fraqueza”.
Décadas mais velho do que o próprio Estado que passou a representar, como ícone político e patrono da paz, Shimon Peres, morreu na noite de terça-feira, aos 93 anos. Ele foi premiê de Israel por três vezes nos anos 70, 80 e 90 e presidente entre 2007 e 2014.
Para a memória mais imediata, principalmente na das gerações recentes, Peres se coloca entre os pacificadores e líderes carismáticos. Ele fundou um centro para a promoção da tolerância que leva seu nome e inclui, em seu currículo, um Nobel da Paz recebido em 1994 pelas negociações que levaram aos Acordos de Oslo. Mas, como o Estado de Israel, o presidente tem uma trajetória que vai além da imagem política. Ele é apontado não apenas como prócer da coexistência entre israelenses e palestinos, sobre a qual discursa ao redor do mundo, mas também como mentor da campanha militar do Sinai, em 1956, e como idealizador da política de assentamentos que, hoje, é apontada como um dos principais entraves à paz no Oriente Médio.
Vários líderes mundiais prestaram homenagem ao ex-presidente israelense Shimon Peres. “Esta noite, Michelle e eu nos unimos a todos que, em Israel, nos Estados Unidos e em todo o mundo prestam homenagem à extraordinária vida do nosso querido amigo Shimon Peres”, disse Barack Obama.
Papa
Nota. “Neste momento em que Israel chora por Peres, espero que sua memória e seus muitos anos de serviço inspirem a todos a trabalhar com maior urgência pela paz e a reconciliação entre os povos”, disse o papa Francisco.
Obama e os Clinton devem ir
SÃO PAULO. O funeral de Shimon Peres será realizado nesta sexta-feira, em Jerusalém. São esperados na cerimônia o presidente americano, Barack Obama; o ex-presidente Bill Clinton e sua mulher, Hillary; o príncipe britânico Charles; o presidente francês, François Hollande, entre outras autoridades. Será a maior reunião de líderes mundiais em Israel desde o funeral de Yitzhak Rabin, morto em 1995 por um fanático judeu e colega de Peres no recebimento do Nobel da Paz no ano anterior.