RIO e BARCELONA. Com a aproximação do referendo sobre a independência da Catalunha, marcado para o próximo domingo e proibido pela Justiça espanhola, os ânimos parecem mais acirrados do que nunca no país.
Junto a uma série de medidas contra a consulta, como a apreensão de milhões de cédulas e urnas, o governo central espanhol já enviou dez mil agentes para a região autônoma, mais que o dobro que o normal.
Além do movimento maciço de estudantes nas ruas pelo referendo, associações de pais pediram que as escolas sejam ocupadas para garantir seu funcionamento como seções eleitorais.
Nessa sexta-feira (29), o conselheiro da Catalunha para Assuntos Internos, Joaquim Forn, avisou que os Mossos d’Esquadra (força de segurança catalã) poderão não agir de acordo com ordens superiores de fechar todas as seções eleitorais no dia do referendo, caso sejam confrontados com resistência popular.
Por sua vez, o secretario de Estado de Segurança da Espanha, José Antonio Nieto, lamentou que o presidente do governo regional catalão, Carles Puigdemont, não tenha suspendido a consulta. “Se a ordem judicial for cumprida, não há por que haver uma resposta violenta”.
Líderes catalães voltaram a pressionar a União Europeia (UE) para que o bloco exija que a Espanha permita a realização do referendo. Em Bruxelas, o chefe de Relações Exteriores da Catalunha, Raul Romeva, acusou o governo central de violar os direitos civis e denunciou que autoridades governamentais, prefeitos e jornalistas da região estão sendo alvo de perseguição. O presidente do governo espanhol, Mariano Rajoy, não compareceu à cúpula nessa sexta-feira (29). “Parece que a Comissão Europeia está apoiando a ação repressiva de Madri”, disse Romeva.
Nos últimos dias, páginas de internet foram bloqueadas e reuniões políticas, interrompidas. Vários políticos foram detidos, e líderes de protestos, indiciados por insurreição, um crime que pode acarretar 15 anos de prisão. Para Vicente Partal, diretor-geral do jornal “Vila Web”, a UE está numa encruzilhada.
“Entendemos que a Espanha é um Estado-membro, mas quando um Estado-membro está violando as normas básicas democráticas, esse problema passa a ser também da UE? Albert Royo, secretário-geral do Conselho de Diplomacia Pública da Catalunha, classificou o silêncio da UE de “inaceitável”. Para ele, a repressão por parte de Madri tem um efeito inverso.
‘Barça’ condena ‘qualquer ação’ contra garantia dos direitos
O FC Barcelona, estandarte histórico do catalanismo, ocupou seu próprio espaço no debate sobre independência dos últimos meses, posicionando-se a favor da realização do referendo de separação da região espanhola.
Em 20 de setembro, em reação à detenção de 14 altos funcionários do governo regional envolvidos com a consulta, o clube emitiu comunicado em defesa “do país, da democracia, da liberdade de expressão e do direito de decidir”, e “condena qualquer ação que possa impedir o exercício pleno dos direitos”. Segundo o historiador Carles Viñas, da Universidade de Barcelona, a equipe tomou a decisão por conta da “forte pressão de sua base social”. “O Barça é reflexo das ideias sociais e políticas da Catalunha, desde sua fundação”, acrescentou o antropólogo Carles Feixa.