O governo de Minas, a Justiça e os advogados de Andrea Neves conseguiram driblar a imprensa ao soltarem, na madrugada desta quinta-feira (22), a irmã do senador afastado Aécio Neves (PSDB). Os dois são suspeitos de negociar propina com o dono do grupo JBS, Joesley Batista. Durante a tarde dessa quarta-feira (21), enquanto a saída de Andrea Neves era aguardada do lado de fora do Complexo Penitenciário Feminino Estevão Pinto, a Secretaria de Administração Prisional (Seap) garantiu à reportagem que ela seria levada à Unidade Gestora de Monitoração Eletrônica, local onde é colocada a tornozeleira.
A Seap confirmou ainda que seria uma regalia se a tornozeleira fosse instalada dentro da penitenciária, fato que acabou acontecendo, já que uma equipe da Unidade Gestora de Monitoramento Eletrônica (UGME) foi chamada para colocar a tornozeleira eletrônica na unidade prisional.
Um juiz especialista no tema, ouvido pela reportagem sob condição de anonimato, também confirmou que o governo burlou a regra ao levar o equipamento até a detenta. "A pessoa sai da prisão com um documento e é obrigada a ir até a unidade gestora de monitoração. Regra geral, no dia a dia, a pessoa é liberada e vai lá para colocar a tornozeleira, não o contrário", afirmou o magistrado.
Procurado, o advogado de Andrea, Marcelo Leonardo, disse que a Polícia Federal recebeu a ordem do Supremo Tribunal Federal (STF) na noite de quarta-feira para cumprir imediatamente a decisão e deu execução à ordem judicial recebida. A defesa informou também que Andrea foi levada pela Polícia Federal para o mesmo endereço onde foi presa, em 18 de maio, em um condomínio de luxo na cidade de Brumadinho, região metropolitana de Belo Horizonte.
Diferente do que disse na quarta, a Seap admitiu nesta quinta que o tratamento dado a Andrea Neves foi mesmo diferenciado, alegando ser "um caso de repercussão". "A Seap decidiu minimizar os impactos do deslocamento da presa e optou pela instalação da tornozeleira eletrônica na própria unidade prisional, o Complexo Penitenciário Feminino Estevão Pinto, onde ela estava desde o dia 18 de maio. Não há nenhuma ilegalidade nesse procedimento de gestão", diz o texto.
Durante a tarde desta quarta, presas que cumprem pena no regime semi-aberto reclamaram das condições em que Andrea Neves era tratada na carceragem. O jornal O TEMPO revelou, com exclusividade, que a irmã de Aécio Neves teve regalias na penitenciária, negadas a outras presas. Além de televisão de plasma, edredom, pijama, ela ficou isolada das outras detentas ocupando sozinha um pavilhão destinado a presas com ensino superior. A Seap nega que seja privilégio de Andrea e diz que qualquer preso pode ter seu próprio televisor, desde que a família leve o aparelho à unidade prisional.
Marcelo Leonardo foi questionado sobre as condições em que Andrea cumprirá a prisão domiciliar, como acesso a telefone, internet, visitas, mas o advogado ainda não se manifestou sobre o assunto.