BRASÍLIA. O áudio de quatro horas, gravado e entregue aparentemente por engano por delatores da JBS à Procuradoria Geral da República (PGR), faz menções, de forma comprometedora, a quatro ministros do Supremo Tribunal Federal (STF). A informação é da revista “Veja”, que não apontou quais seriam os membros da Corte máxima do Judiciário brasileiro citados na conversa.
De acordo com o site da revista, uma dessas menções é considerada “gravíssima” pelos procuradores que atuam na força-tarefa da Lava Jato na PGR. As demais, afirma a reportagem, seriam suficientes para causar alguns embaraços aos envolvidos.
Atribuindo a informação a fontes com acesso aos áudios, a Veja diz que ministros são citados por Joesley Batista e Ricardo Saud em situações com “diferentes níveis de gravidade”. Em alguns casos, apontam as fontes, seriam banalidades, embora “ruins” para a imagem dos citados. Segundo a Veja, existe uma expectativa de que o Supremo torne a gravação pública ainda nesta terça-feira (5).
O áudio apresentado por Joesley e Saud aparenta ter sido feito involuntariamente, quando eles aprendiam a usar um dos gravadores que seriam utilizados para registrar conversas com autoridades. Uma das fontes da revista, inclusive, aponta que os dois aparentavam estar sob o efeito de álcool durante a conversa.
Para autoridades responsáveis por investigar o assunto, esse fato não retira a necessidade de apurar a veracidade do que disseram no diálogo travado.
Além dos ministros do STF, os dois delatores da JBS mencionam o ex-procurador da República Marcelo Miller, que trocou a assessoria do procurador geral da República, Rodrigo Janot, por um escritório de advocacia contratado pela JBS.
Reação. O ministro do STF Marco Aurélio Mello disse nessa segunda-feira (4) que, para não deixar a Corte sob suspeita, Janot precisa dizer quais são os nomes sob suspeita de irregularidade nas tratativas da delação dos executivos da JBS.
“Quero os nomes. Simplesmente dizer que há envolvidos deste ou daquele órgão não basta”, afirmou Marco Aurélio ao jornal “Folha de S.Paulo”. “Eu não escutei o que doutor Janot, a quem respeito muito, disse. Vou ver nos jornais, mas é preciso esclarecer”.
Na entrevista concedida horas antes, o procurador geral disse que só não divulgou os áudios até o momento – uma vez que o acordo da JBS não está sob sigilo – porque eles têm trechos que envolvem “direito à personalidade e à intimidade” de agentes da PGR e do STF: “Se não tiver que ser (entregue à imprensa) inteiro, que seja por decisão do Supremo”.
Questionado sobre quem seriam os agentes do STF, Janot respondeu apenas que eles “têm foro”, sem especificar que seriam ministros.
Origem. Segundo o jornal “Folha de S.Paulo”, a gravação da conversa que pode levar à anulação da delação da JBS foi encontrada em meio a um material referente ao senador Ciro Nogueira (PP-PI).