O senhor acha que o governo Temer se sustenta até o fim do mandato, em 2018?
As chances serão ciclicamente evidenciadas de que ele não tem a menor estatura moral, a menor compostura, a menor condição pessoal, muito menos política, de governar uma nação como o Brasil. É a primeira vez na história que um presidente da República pode responder a um inquérito por formação de quadrilha, lavagem de dinheiro. Todo dia salta uma denúncia nova, e ele simplesmente não responde, evita responder as perguntas, porque sabe que é culpado de tudo isso, aliás coisa que eu já denuncio há mais de 15 anos. Não sei se ele vai conseguir se sustentar, porque hoje há uma dissociação absurdamente selvagem entre a opinião pública brasileira e o estamento político, majoritariamente em Brasília. É inacreditável que um partido como o PSDB, por exemplo, diante de tantas evidências, continue agarrado na alça desse caixão. Mas eu acredito que é preciso lutar para tirar esse homem daí.
Mas seria possível fazer eleições diretas ainda neste ano? O senhor acredita que é viável?
Isso depende. O milagre da política é que, quando os homens querem, inspirados pela maioria popular, tudo se resolve. Nós enfrentamos toicinho com mais cabelo, dificuldades muito mais graves, e havia estatura dos homens da bata, vários deles mineiros, mas o maior de todos, naquela data, Tancredo Neves. Não foi fácil a costura. Ali havia ameaça sistemática de recrudescência da própria ditadura militar e, com habilidade e coragem, foi costurado. Infelizmente agora apodreceu de um jeito tal o estamento político brasileiro, e o colapso da federação também – a própria Minas Gerais ilíquido, Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro, São Paulo extremamente debilitado financeiramente, mais 17 Estados do Brasil. Tudo isso é um encontro terrível de circunstâncias que o senhor Michel Temer está explorando com o maior despudor e sem nenhum republicanismo. Vamos ver.
Como o senhor viu a declaração do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso de apoiar as eleições diretas?
O Fernando Henrique se acostumou a dizer para cada público aquilo que o público quer ouvir. É um velho demagogo. Eu conheço ele de longa data, e agora pensa que é possível continuar fazendo isso em tempos de redes sociais e em tempos em que a imprensa já não é tão monolítica quanto era quando ele manipulou, por exemplo, a vergonhosa eleição de 1998, da qual eu fui candidato a presidente, e ele manipulou vergonhosamente e não houve nenhum debate. Eu sou um cara que conheço a deformação da grande mídia brasileira, ou da grande mídia de São Paulo e do Rio para ser mais honesto, porque há uma imprensa regional bastante respeitável, e isso salva um pouco a democracia no Brasil. E agora ele está sendo apanhado dizendo o oposto do que disse ontem, sem ser uma metamorfose ambulante charmosa como o Raul Seixas.
O senador afastado Aécio Neves vai ter seu pedido de prisão julgado na próxima terça-feira. Como o senhor viu as recentes revelações sobre a conduta de Aécio?
Para mim foi uma das mais profundas decepções da minha vida pública. O jornalismo mineiro sabe da minha relação antiga de amizade com o Aécio, apesar de divergências de um tempo para cá incontornáveis. Mas eu ajudei o Tancredo Neves na eleição do Colégio Eleitoral ainda já como deputado estadual, e conheço o Aécio desde então, jovem secretário particular do Tancredo. Para mim, é absolutamente chocante e talvez a maior decepção que já tive na minha longa vida pública.
O senhor acha que o PSDB está perdendo força?
Eu acho que está se percebendo no Brasil a fraude que é.
Durante palestra aos estudantes na UFMG o senhor criticou o embate entre ‘petralhas’ e ‘coxinhas’. O senhor acha que é preciso superar essa polarização?
O Brasil não cabe dentro dessa ‘miudice’ e isso tem feito muito mal ao nosso país.
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