Após ser afastado do cargo de senador e ainda ver sua irmã e um primo serem presos pela Polícia Federal na última semana, Aécio Neves (PSDB) poderá agora perder o título de Doutor Honoris Causa que recebeu em 2007 da Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ), cidade de origem de sua família. A instituição, inclusive, conta com um campus que leva o nome de seu avô, Tancredo Neves, que teria sido o idealizador de um centro universitário na cidade em que nasceu.
Na última sexta-feira (19), o Diretório Acadêmico dos Cursos de Engenharia do campus Alto Paraopeba encaminhou um ofício à reitoria da universidade solicitando que a resolução número 14/2007, que concedeu o título ao político, seja revogada. A reportagem de O TEMPO conversou com um dos estudantes que integram o diretório, que não quis ser identificado.
"A gente sabe bem da história da universidade, mas diante deste escândalo de corrupção, resolvemos protocolar o pedido e vamos cobrar do conselho universitário a revogação. Ele não estudou para conseguir o título, não achamos que seja bom atrelar o nome de um político envolvido com corrupção ao da instituição. Seria irresponsabilidade", argumentou o estudante.
Para a retirada do título, é preciso uma deliberação por parte do Conselho Universitário (CONSU), que é formado pelo reitor, e conselheiros eleitos entre professores e estudantes. "Eles se reúnem em São João del-Rei quinzenalmente. Ainda não sabemos a data, mas esperamos que o nosso pedido entre em pauta. Acreditamos que, mesmo sendo uma universidade fundada pelo avô do Aécio, não podemos ter medo do que vão falar. Se ele errou, tem que pagar pelo erro. Se fosse uma condecoração dada a qualquer outro político envolvido em corrupção, pediríamos o mesmo", concluiu.
FOTO: REPRODUÇÃO / FACEBOOK |
Ofício foi protocolado pelo DA na última sexta-feira (19) |
Procurada pela reportagem, a assessoria de imprensa da UFSJ informou por meio de uma nota que o título é concedido e só pode ser extinto por decisão do CONSU, que é "o órgão deliberativo de maior poder na universidade". A próxima reunião do conselho acontecerá no dia 3 de julho, mas ainda não há informação se a revogação do título de Aécio entrará na pauta.
A reitoria também foi ouvida e disse que, por enquanto, não há como prever quais os temas que serão discutidos na próxima reunião.
Protestos
Desde a divulgação na última quarta-feira (17) do diálogo entre o senador afastado e Joesley Batista, dono da JBS, moradores de São João del-Rei passaram a ocupar a porta do famoso "Solar dos Neves", casarão da família de Tancredo, que nasceu na cidade. Na quinta-feira (18), manifestantes, munidos de bandeiras do Brasil e placas pedindo eleições diretas, fizeram uma fogueira no local e queimaram um boneco com a cara de Aécio.
Cartazes também foram afixados nas paredes do ponto turístico. Em um deles, estava estampada uma das frases mais emblemáticas da conversa em que Aécio pediu R$ 2 milhões ao dono do frigorífico para pagar a sua defesa na Lava Jato: “Tem que ser um que a gente mata ele antes de fazer delação”. Segundo pedestres, a medida em que cartazes eram afixados, alguém ia até o local e os retirava.
Também viralizou na internet uma foto de uma estátua do ex-presidente Tancredo Neves, que fica no memorial que leva seu nome - feito com a coordenação de Andrea Neves e que contém fotografias e objetos pessoais do ex-presidente -, segurando um cartaz com os dizeres: “Que vergonha dos meus netinhos! Que vergonha!”.