As manifestações que prometem ocupar hoje o país pedindo o impeachment da presidente Dilma Rousseff não deverão ser engrossadas por moradores de periferias. Pelo menos essa foi a constatação da reportagem de O TEMPO ao visitar seis regiões de baixa renda em Belo Horizonte e Contagem, na região metropolitana, na última semana. Mesmo demonstrando preocupação com a crise, nenhum dos entrevistados afirmou estar disposto a participar dos atos. Em dois aglomerados, a possibilidade de impeachment aparece, mas não a ponto de provocar reação para os atos.
Nos bairros Tupi e Jaqueline, ambos na região Norte da capital, e em Nova Contagem e Parque São João, em Contagem, as famílias entrevistadas avaliam que os reflexos do mau momento do país ainda não chegaram a suas casas e, portanto, não há motivos para protestos.
Para a maioria, a saída de Dilma não é a solução. A raiz do problema, dizem, é a corrupção, mas eles não atribuem a responsabilidade à presidente. Muitos afirmaram que não veem, neste momento, um nome alternativo ao de Dilma capaz de estancar os escândalos.
É em uma casa simples alugada, de cinco cômodos, que o vigilante José Geraldo Lopes, 54, vive com a mulher e duas filhas, no Tupi. Notícia de protesto, diz ele, “só pela TV”. Eleitor da presidente e com uma renda familiar de três salários mínimos, Lopes diz estar desiludido, mas tem um palpite para a crise: “Temos que deixar a Dilma trabalhar”.
Ele conta que “depois de a vida ter melhorado nos últimos anos”, 2015 está estagnado. “Para mim, todo mundo tem culpa no cartório. Estou desiludido. Não vejo ninguém melhor que a Dilma para assumir” diz o porteiro, que nunca recebeu benefício federal.
O bombeiro Wilson Brito, 42, vizinho de bairro, pensa parecido. “Bom, não está, mas se a gente botou ela lá, tem que deixar ela trabalhar”, diz ele, que não pretende aderir aos atos. “Ainda não tive que baixar meu nível de vida. Só economizo água por causa da crise hídrica”. Com o seu salário e o da mulher, que é carroceira, ele sustenta três filhos e dois netos.
Vivendo de bicos há dez anos, Walter da Silva, 50, fala que não tem do que reclamar. “A vida do pobre melhorou muito”, atesta ele que classifica os protestos como “uma bobagem” e conclui: “Dilma faz o que pode, mas é rodeada de gente que só quer atrapalhar”.
Contra o PT
Eleitora de Dilma, a dona de casa de Nova Contagem Neuza Gomes, 58, é mãe de três filhos. Um deles está desempregado há cinco meses após 14 anos na mesma empresa. Apesar de não participar dos protestos, ela diz ser a favor dos atos, mas defende Dilma. Ex-beneficiária do Bolsa Família, Neuza tem críticas ao PT. “Era um partido bom, mas está esculhambado”.
Sem culpa
Há dois meses, Alexandre Ribeiro, 40, morador do bairro Jaqueline, perdeu o emprego de eletricista. Desde então, trabalha como garçom. Eleitor de Dilma, ele diz não se arrepender do voto. “Para Dilma mandar alguma coisa, outros 200 têm que assinar. A culpa não é só dela. Neste ano ficou ruim para os ricos, e, com isso, piora para os pobres porque não têm emprego”.