Brasília. A Polícia Federal indiciou o contador Roberto Trombeta e seus sócios Rodrigo Morales e Mariana de Paula por formação de quadrilha e lavagem de dinheiro em conjunto com o doleiro Alberto Youssef, na Lava Jato. Trombeta foi acusado pelo dono da UTC e delator Ricardo Pessôa de lavar dinheiro da empreiteira para o caixa dois das campanhas de Aloizio Mercadante ao governo de São Paulo, e do tucano Aloysio Nunes, ao Senado, ambas em 2010.
Trombeta e seu sócio firmaram um acordo de delação premiada e prometeram contar o que sabem aos investigadores em troca de benefícios como redução da pena. De acordo com a Polícia Federal, o contador, seus sócios e Youssef “mantinham vínculos com o fim de produzir documentos falsos para dissimular a origem, movimentação e localização de recursos decorrentes de crimes tais como evasão de divisas, corrupção ativa e passiva entre outros antecedentes.” O indiciamento ocorreu em uma investigação contra o contador na Justiça Federal no Paraná.
A citação ao contador pelo empreiteiro Ricardo Pessôa levou à abertura de inquéritos para investigar o atual ministro da Educação, Aloizio Mercadante, e o senador Aloysio Nunes – candidato a vice na chapa de Aécio Neves à Presidência no ano passado – no Supremo Tribunal Federal (STF). Como o caso dos dois não envolve a Petrobras, a relatoria ficou com o ministro Celso de Mello.
A Polícia Federal chegou ao nome de Trombeta e de seus sócios a partir da identificação dos contatos telefônicos de Alberto Youssef, principal doleiro investigado pela operação e um dos primeiros delatores que revelou o esquema de corrupção e propinas instalado na Petrobras entre 2004 e 2014.
O senador e o ministro negam veementemente envolvimento em irregularidades. Mercadante confirma a existência de um encontro com o Pessôa em 2010, por solicitação do dono da UTC, mas afirma que não houve discussão de valores para campanha, “tampouco solicitação de recursos de caixa dois por parte do coordenador de campanha”.
Em junho, quando foi acusado por Pessôa, Aloysio Nunes declarou que a doação feita pela UTC à sua campanha em 2010 “foi efetiva e legalmente arrecadada”, conforme “consta da prestação de contas encaminhada à Justiça Eleitoral”.
“Em 2010, não havia Lava Jato e eu, como a imensa maioria dos brasileiros, não tinha conhecimento das relações promíscuas entre a UTC e a Petrobras”, declarou Aloysio. Quando foi instaurado o inquérito, Mercadante informou que só iria se manifestar após ser notificado sobre o caso.
Defesas
Respostas. A defesa de Trombeta e seus sócios afirmou que não iria comentar o indiciamento pela Polícia Federal. O advogado de Youssef também não quis comentar mais um indiciamento.
Dirceu
Marcado. O juiz Sérgio Moro marcou para 29 de janeiro de 2016 o interrogatório de José Dirceu no processo a que o ex-ministro responde na Justiça Federal do Paraná.
Oitivas. Os delatores Milton Pascowitch e Pedro José Barusco serão os primeiros a depor, no dia 21 de janeiro. No dia seguinte, será ouvido outro delator, Júlio Camargo.
Motivo. Ao marcar as datas, o juiz observou que o prazo longo até os dias dos interrogatórios ocorre por conta do recesso judiciário, e também porque a defesa de Dirceu insiste em ouvir testemunhas que residem no exterior.
CPI do BTG
Assinaturas. O deputado federal João Henrique Holanda Caldas (PSB-AL), começou a colher assinaturas para instalar uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) na Câmara para investigar a evolução do banco de investimentos BTG Pactual e de seu dono e presidente, André Esteves, bem como a relação de ambos com o poder público.
Devagar. Até nesta sexta, o requerimento da CPI não tinha nenhuma assinatura. A menos de um mês para o recesso parlamentar, contudo, a expectativa é de que a CPI só seja instalada em 2016. Há dois pedidos de CPI na fila para entrar em funcionamento.
Conta é do banco de Esteves
Brasília. O banco BTG Pactual, de propriedade de André Esteves, comprou, em julho de 2014, o suíço BSI, onde o senador Romário Faria (PSB-RJ) admitiu ter tido uma conta bancária. Na gravação que levou à prisão Esteves e o senador Delcídio Amaral (PT-MS), o parlamentar e o advogado Edson Ribeiro sugerem que Romário fez um acordo com o prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes (PMDB), que mantém boa relação com o banqueiro.
Atualmente favorito à prefeitura carioca em 2016, Romário abandonaria seu desejo de ser candidato a prefeito para apoiar o candidato de Paes, o deputado federal licenciado Pedro Paulo (PMDB).
O caso é mencionado logo no começo da conversa gravada no dia 4 de novembro deste ano pelo filho de Nestor Cerveró, Bernardo. “Aí tá, pra acabar de complicar ainda mais o jogo aparece o Eduardo Paes com o Pedro Paulo, é, com o Romário”, diz Delcídio. “Ué, fizeram acordo né?”, comenta Ribeiro. “Diz o Eduardo que fez”, afirma o senador do PT. “Tranquilo. Tinha conta realmente do Romário”, ressalta Ribeiro. Surpreso, o filho de Cerveró questiona: “Tinha essa conta?”. Na sequência, Delcídio conclui: “E em função disso fizeram acordo”.
A notícia de que Romário era dono de uma conta no banco BSI da Suíça foi revelada pela revista “Veja” em julho deste ano. A publicação chegou a publicar um extrato da conta com um saldo num valor equivalente a R$ 7,5 milhões.
Num primeiro momento, o senador disse que não se lembrava de ser proprietário da conta. Dias depois, Romário viajou para a Suíça ao lado de sua ex-mulher para obter uma confirmação do banco. No dia 5 de agosto, o senador divulgou um comunicado BSI – cujo dono é Esteves – afirmando que o extrato divulgado por “Veja” era “falso”.
A revista chegou a reconhecer que cometera um erro. Nesta sexta, o jornal “O Globo” publicou uma entrevista em que Romário admite ter sido dono, de fato, de uma conta no banco BSI “Quando eu jogava na Europa, tive uma conta no BSI, só não sei o ano”, disse o ex-jogador. O Ministério Público Federal afirmou nesta sexta que o caso será apurado. O senador Romário também solicitou à PGR que o caso seja apurado.
Relator da Lava Jato no STJ foi citado
São Paulo. O nome do ministro do Superior Tribunal de Justiça (STJ) Navarro Dantas, relator dos processos da Lava Jato, foi citado em conversa gravada pelo filho do ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró, Bernardo Cerveró. A gravação levou à prisão do senador Delcídio do Amaral (PT-MS) e do banqueiro André Esteves, do BTG Pactual, por obstrução às investigações da força-tarefa.
“O STJ, muito possivelmente, na Turma vai sair”, afirma o senador, ao tratarem de um habeas corpus que teria sido apresentado pela defesa de Cerveró.
“Acredito”, responde o advogado de Cerveró Edson Ribeiro. “A decisão que negou pro Dantas, né, foi muito … sem nada né, literalmente assim deixa jogar pra Turma”, completa o chefe de gabinete de Delcídio, Diogo Ferreira.
“Pois é, jogar pra turma pra turma julgar né. Isso acho que é bom”, diz Delcídio, na conversa de 1h e 35min gravada por Bernardo e entregue à Procuradoria Geral da República, como prova da tentativa de compra do silêncio do pai, Nestor Cerveró.
O contexto da conversa era a tentativa jurídica de anulação nos tribunais das delações das principais personagens da Lava Jato, como do ex-diretor de Abastecimento Paulo Roberto Costa, do empresário Ricardo Pessôa, dono da UTC, e do doleiro Alberto Youssef, e a tentativa de “anular” a Lava Jato.
O ministro Ribeiro Dantas não vai dar entrevistas nem comentar a citação ao seu nome nas conversas.