SÃO PAULO. Em meio à maior crise do governo Michel Temer, ministros de sua gestão podem ser alvos de novos pedidos de inquéritos, desta vez decorrentes da delação da JBS. Os depoimentos dos delatores, revelados neste mês, envolvem de forma significativa ao menos quatro ministros e fazem acusações como uso de caixa 2 em campanha e recebimento de propina. Outros dois nomes bastante ligados a Temer estão no radar dos investigadores.
Apesar de a delação já ter sido tornada pública, a Procuradoria Geral da República (PGR) ainda analisa as informações do acordo de colaboração que envolvem autoridades com foro. Se encontrar indícios de irregularidades, o procurador geral, Rodrigo Janot, deve pedir ao Supremo Tribunal Federal (STF) a abertura de inquéritos.
É uma situação diferente da ocorrida na delação da Odebrecht, na qual o conteúdo dos acordos só foi revelado quando o ministro do STF Edson Fachin autorizou a abertura dos inquéritos, em abril.
Entre ministros, as acusações mais incisivas da delação da JBS miraram Gilberto Kassab (PSD), da Ciência, Tecnologia e Comunicações. Um dos donos da JBS, Wesley Batista disse que pagou mensalmente R$ 350 mil desde 2010 a uma empresa ligada a Kassab por contratos superfaturados de aluguel de caminhões. O valor totaliza quase R$ 30 milhões.
Segundo Wesley Batista, o grupo herdou esse contrato ao adquirir o frigorífico Bertin, em 2009, e decidiu manter os pagamentos porque considerou que o hoje ministro teria “influência em algum momento”.
Outro delator, Ricardo Saud disse que, na campanha de 2014, Kassab embolsou R$ 7 milhões pagos pela JBS dentro de um acordo entre PT e PSD, partido do qual o ministro é fundador. Esse montante, disse, foi pago por meio de notas fiscais frias de uma empresa de um irmão de Kassab, Renato.
Joesley Batista disse que pagou no fim de março, quando já negociava delação, R$ 6 milhões de propina ao atual titular do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, Marcos Pereira, do PRB. O suborno seria, segundo o empresário, referente à liberação de um empréstimo de R$ 2,7 bilhões na Caixa. O PRB havia indicado um vice-presidente do banco, e ficaram programados pagamentos mensais de R$ 500 mil no início de 2016.
Outros dois relatos envolvendo ministros são relacionados à campanha de 2014. Ricardo Saud disse que o ministro das Cidades, o tucano Bruno Araújo, recebeu R$ 200 mil em dinheiro vivo naquela eleição, quando concorreu a deputado federal. O peemedebista Helder Barbalho, titular da pasta da Integração Nacional, foi acusado por Saud de ter sua campanha ao governo do Pará financiada com propina e caixa 2.
Os delatores também fazem menções mais breves a dois dos principais integrantes do núcleo do governo Temer, Eliseu Padilha (Casa Civil) e Moreira Franco (Secretaria Geral da Presidência). Em um contexto de relatos de irregularidades, eles são citados como integrantes do grupo mantido por Temer e Eduardo Cunha. Na delação da Odebrecht, Fachin autorizou a abertura de inquéritos contra oito dos atuais ministros de Temer.
Artigo
Reformas. Em artigo publicado nesse domingo (28) na “Folha” Temer defendeu a agenda de reformas na economia: “Sem as reformas, o Brasil não se sustentará. Todos, inclusive, a oposição sabem disso”, disse.