
Análise
Para 51,5% dos mineiros, nada mudaria caso a população pudesse andar armada
O resultado em que houve o maior equilíbrio na pesquisa Minas no Brasil de 2018 sobre o Estatuto do Desarmamento foi no questionamento sobre a possibilidade de a mudança alterar a atual situação da segurança pública no Brasil. Enquanto 51,5% dos entrevistados disseram que nada mudará caso a população tenha o direito de andar armada, para 48,5% essa alteração poderia pelo menos reduzir um pouco a violência.
O garçom Gabriel Araújo, 20, afirma que a Justiça brasileira é lenta para punir os bandidos, o que gera uma sensação de impunidade entre a população. Porém, ele acredita que, se houvesse a liberação das armas, aumentariam os problemas com pessoas querendo fazer justiça com as própria as mãos e trocando a punição legal pela vingança.
“O brasileiro tem a mania de fazer justiça com as próprias mãos e, com a liberação das armas, iria favorecer esse comportamento, que não geraria maior segurança. Pelo contrário, acredito que teríamos um cenário um pouco caótico. No fim das contas, não teríamos uma redução da violência. Já temos problemas com a situação atual, com o uso de armas de forma ilegal”, analisou.
Já o motorista Lamartine César, 46, acredita que ocorreria o contrário, e os criminosos se sentiriam menos confortáveis para realizar crimes se presumissem que seus potenciais alvos estão armados. “Eu acho que inibiria, sim, a ação dos bandidos. Um ladrão pensaria muito antes de entrar em uma casa se as pessoas pudessem portar arma. Hoje eles se sentem corajosos porque praticamente têm a certeza de que não haverá reação. Por isso entram nas casas de pais de família, matam pais de família. E, mesmo quando são presos, sabem que não vão ficar na prisão por muito tempo”, disse.
Outro dado da pesquisa em que houve um empate técnico foi quando os entrevistados foram questionados sobre se teriam mais medo se soubessem que seus vizinhos têm uma arma. Nesse caso, 50,8% dos entrevistados disseram que não teriam medo ao saber que a pessoa que mora ao lado de sua casa tem uma arma. “Eu sou a favor da liberação do uso da arma. Mas eu defendo que haja uma preparação psicológica para quem vai utilizá-la. É preciso ter um controle rigoroso para impedir que pessoas que não têm preparo emocional portem uma arma. Se houvesse esse controle, eu ficaria tranquilo caso meu vizinho tivesse uma arma, porque saberia que ele está preparado para isso”, disse o motorista Lamartine.
Já o garçom Gabriel Araújo diz que teria bastante medo se soubesse que seu vizinho está armado. “A gente nunca conhece 100% ninguém. Nem mesmo familiar a gente pode ter essa certeza, quanto mais vizinhos. Eu mesmo falo muito pouco com os moradores do meu bairro. Então saber que todos eles poderiam estar armados me deixaria bem preocupado”, afirmou.
A mesma preocupação tem a funcionária pública Tatiane Melo, 30. “Eu acho que as pessoas não estão preparadas para ter uma arma. Temos casos de agressão por motivos banais, alguns casos que, mesmo sem arma, terminam em morte. Imagina se todos pudessem portar uma arma? Certamente teríamos um número maior de mortes. Então, por causa disso, não gostaria que meu vizinho tivesse uma arma e ficaria com medo, sim”, afirmou.
Essas perguntas também registraram um grande equilíbrio em algumas estratificações. Não houve variações significativas quando se avaliam o posicionamento por faixa etária dos entrevistados e também no caso de religiões.
Escolha
Plebiscito. Em 2005, os eleitores brasileiros votaram em plebiscito sobre a retirada do artigo 35 do Estatuto do Desarmamento que previa a proibição da comercialização de armas no Brasil. Somente entidades autorizadas poderiam adquirir armamento.
Resultado. Com 63,94% dos votos, a maioria da população aprovou a retirada do artigo, que não entrou em vigor.
Direito a ter arma não reduziria crimes
Uma situação contraditória mostrada pela pesquisa Minas no Brasil de 2018 é que, do total de entrevistados que disseram ser favoráveis à revogação do Estatuto do Desarmamento, 22% afirmaram que a medida não traria nenhum impacto nos índices de violência.
“Acho que as pessoas que passarem por um treinamento rigoroso devem ter o direito de ter uma arma. Mas a redução da criminalidade depende de políticas públicas”, afirma o contador Raimundo Souza, 52.
Outros 33,2% dos que disseram ser favoráveis à revogação do Estatuto do Desarmamento acreditam que a medida inibiria pouco as ações de bandidos, e 44,6% acreditam que inibiria muito.
Já entre as pessoas que defendem a manutenção das regras como estão hoje, 72,8% acreditam que a liberação do uso de armas não inibiria a violência. Outros 20,4% disseram que, apesar de serem contra o armamento, acreditam que inibiria um pouco a ação de bandidos, e 6,8% afirmaram que inibiria muito.
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