DIA DAS MÃES

Mãe depois dos 40: cresce número de mulheres que têm filho mais tarde

Mudança cultural e avanço da medicina contribuem pra realização da maternidade em fase mais avançada da vida

Por Jonatas Pacheco
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Mesmo com muitos mitos, verdades e inseguranças, o número de mulheres que se tornam mães depois dos 40 anos vem crescendo. Segundo o Painel de Monitoramento de Nascidos Vivos do Ministério da Saúde, o Brasil atingiu a marca de 106.534 nascimentos de filhos de mães com 40 anos ou mais em 2022, quase o dobro (78,05%) em comparação com o início do século (59.833 em 2001).

Minas Gerais também segue a tendência do país. Em 2022, houve 10.980 partos de mães com 40 anos ou mais, enquanto em 2001 foram 6.133, um salto de 79,03%. O crescimento ocorre na contramão das demais faixas etárias, em que tem diminuído o número de nascimentos – a maior queda de 2001 para 2022 foi entre garotas de 14 a 19 anos(-56,77%), seguida pelo grupo de 20 a 24 anos (-36,62%).

“Há uma mudança cultural da sociedade. Antigamente era natural sair da escola ou faculdade e já constituir família, as mulheres idealizavam o perfil do marido e a maternidade. Hoje em dia ninguém faz isso. A mulher tem objetivos em relação a ela mesma: ‘Eu vou me formar, morar em outro lugar, estudar outra língua’. A mulher tem uma vida para cumprir, independentemente de ser mãe”, explicou Rita Amaral, médica ginecologista especialista em gravidez de risco.

A psicóloga Renata Koldewijn, mineira de BH, entrou recentemente para essa estatística. Aos 45 anos, ela deu luz à Lua, que está com apenas 5 meses. “Foi uma gravidez superplanejada. Eu não sonhava em ser mãe cedo, priorizei o aspecto profissional e não tinha um parceiro que compartilhava dos mesmos valores de vida antes dos 40. Quando encontrei a pessoa que hoje é meu marido, exatamente aos 40 anos, é que decidimos ter filho”, contou.

Mas o processo não foi fácil. Inicialmente, Renata e o marido, o holandês Niels Koldewijn, de 44 anos, queriam adotar uma criança, só que, depois de quatro anos na fila e sem resposta positiva, decidiram tentar engravidar, o que não ocorreu naturalmente. Foi então que eles partiram para a fertilização in vitro. 

“Não é um tratamento fácil, requer muita consciência, paciência, disciplina e dedicação. Foram dez meses de hormônios, cuidados com a nutrição, com a mente e o corpo. No meu caso, que fiz uma tireoidectomia há cinco anos por causa de um câncer e estava na menopausa, era 5% de chance (de dar certo). No entanto, aconteceu de primeira”, lembrou a psicóloga.

Renata atende mulheres há alguns anos e conta que após a gestação se envolveu ainda mais com gestantes e também pessoas que estão tentando engravidas.

"A saúde mental de uma mulher gestante é um assunto que deveria ter um olhar mais amplo da sociedade de uma maneira geral. Atendo on-line as mulheres que desejam compartilhar suas jornadas e desafios a partir da escolha de gestar. Muitas nem sabem os caminhos que são possíveis de percorrer. Desejo que cada mulher que chega até mim tenha a alegria de vivenciar a maternidade como eu também experimentei, ou encontre forças e caminhos para lidar com seus lutos da não gestação desejada", concluiu.

Caso você queria marcar uma consulta com a Renata Koldweijn, telefone é +31 6 27911725.

Medicina brasileira foi fundamental para gravidez

A psicóloga Renata Koldewijn mora atualmente em Amsterdã, na Holanda. Mesmo em um país de Primeiro Mundo, ela não quis ter a filha na Europa e veio ser mãe no Brasil. Ela conta que a gestação foi de alto risco, pois teve uma hiperêmese gravídica – náusea extremamente forte e vômitos excessivos, o que causa perda de peso e desidratação.

“Me senti desamparada pela assistência holandesa. Me deram medicamento para enjoo que não resolvia. Vim correndo em busca de um atendimento humanizado. Com informação de qualidade e investimento em profissionais competentes, eu consegui o parto que eu queria e merecia”, contou Renata.

Complicações na gravidez

A jornalista e professora Ana Karenina Berutti, de 50 anos, foi mãe pela segunda vez quando tinha 41. Depois da gestação do primeiro filho, Júlio, atualmente com 20 anos, a chegada Luísa precisou ser cercada de cuidados, já que ela possui trombofilia.

"Quando tinha 41 anos, ainda pensava em ter outro filho, e sabia que a decisão não podia demorar muito, pois o tempo corria contra mim. O meu ginecologista e obstetra, especialista em gestação de alto risco, me tranquilizou e disse que, como sabíamos o problema que eu tinha, bastava tomarmos os cuidados e seguirmos um protocolo. Decidi encarar a gravidez. E engravidei no mesmo mês, sem nenhuma dificuldade", lembrou.

Ana conta que as injeções diárias de anticoagulante e os exames constantes estavam sempre ali para lembrar que a gravidez não era simples. Na 38ª semana da gestação, durante um exame de ultrassom, o médico constatou que estava com pouco líquido e o parto teria que ser adiantado porque a Luísa já estava em sofrimento fetal.

"Nunca estamos preparados para ter um bebê antes da hora. Ainda estava pintando o quarto dela, arrumando um monte de detalhes e tive que dispensar todo mundo da obra no mesmo dia, limpar a casa, fazer a malinha da maternidade e ir para o hospital naquele mesmo dia. Uma correria. Um susto. Mas, no fim, deu tudo certo, graças a Deus. Hoje a Luísa está com nove anos e saudável", contou.

Cuidar da saúde é essencial

O avanço da medicina e a capacitação de profissionais são aliados da gravidez tardia. “Hoje a gente tem acompanhamentos muito rigorosos no pré-natal, com medicações e ultrassons que permitem um acompanhamento melhor da gravidez, além das técnicas de reprodução assistida”, relatou a médica Ines Katerina Cavallo, membro da diretoria da Associação de Ginecologistas e Obstetras de Minas Gerais.

Ela explica, entretanto, que ter 40 anos ou mais já configura “gravidez de risco” pelo simples fato da idade, já que tanto a mãe quanto o bebê ficam mais propensos a complicações. Por isso, ter hábitos saudáveis é fundamental para auxiliar na gestação. “É muito importante que a mulher e o parceiro tenham uma dieta controlada e façam atividade física. Caso a pessoa tenha alguma doença, como diabetes ou (problema de) tireoide, é aconselhável ir a um médico de referência para estar com essas doenças controladas antes de engravidar”, afirma Ines.

O que é mito

É comum ouvir que mulheres com mais de 40 anos não podem ter filhos, o que é mito, segundo a ginecologista Rita Amaral. “Biologicamente, é possível. A gente só orienta a procurar um médico cerca de três meses antes de tentar engravidar, para ter um acompanhamento e criar melhores condições”, orienta a médica.

Como a idade influencia

Segundo a ginecologista Ines Cavallo, conforme a idade da mulher vai avançando, os óvulos também vão, consequentemente perdendo qualidade para a fecundação. Isso faz com que as chances de engravidar diminuam, além de aumentar o risco de a criança nascer com algum tipo de problema.

Novo cenário: número de nascidos de mães +40
Editoria de Arte / O Tempo

 

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