Trânsito

A cada quatro minutos, um condutor é autuado por avanço de sinal vermelho em BH

Infração, que ameaça vida de motoristas, passageiros e pedestres, é fiscalizada por mais de 200 detectores espalhados pela capital

Por Gabriel Rezende
Publicado em 15 de abril de 2024 | 09:45
 
 
 
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A cada quatro minutos, um condutor avança o sinal vermelho em Belo Horizonte. Os dados são referentes às infrações flagradas, em 2023, pelos 213 detectores de avanço de sinal, que fiscalizam 591 faixas em 187 locais da capital mineira. A infração é enquadrada como gravíssima pelo Código de Trânsito Brasileiro (CTB). 

Especialistas reforçam que o desrespeito às leis de trânsito, com avanço do sinal vermelho, ameaça a vida de motoristas, passageiros e pedestres. Também citam a importância dos dispositivos para prevenir acidentes, especialmente em cruzamentos, que são pontos críticos para colisões e atropelamentos. Em dez anos, entre 2013 e 2022, 1.328 pessoas morreram em sinistros de trânsito em Belo Horizonte.

Os detectores de avanço de sinal registraram, no ano passado, 127.222 infrações, uma média de quase 350 por dia, segundo os dados da Prefeitura de Belo Horizonte (PBH). "Preocupa muito, porque estamos falando de segurança, de preservar vidas", analisa a diretora de Dados e Informações para a Transição da BHTrans, Jussara Bellavinha.

A reportagem esteve em um dos pontos com detector de avanço de sinal, na avenida do Contorno, no encontro com as ruas Antero da Silveira e Antônio de Albuquerque, no bairro Funcionários, região Centro-Sul de Belo Horizonte. Em apenas cinco minutos, foram quatro avanços de sinal: três motoristas e um motociclista.

Especialista em segurança no trânsito, Roberta Torres endossa a preocupação com os dados. "Especialmente porque essas foram as infrações registradas, sem contar as demais que acontecem diariamente em locais em que não existe fiscalização", diz. Ela acrescenta que cada desrespeito representa um risco de acidente.

"A fiscalização desempenha papel fundamental na prevenção de sinistros. Muitas pessoas ainda agem não pela postura de segurança, mas pelo medo da penalidade. A multa, no fim das contas, acontece depois que a infração foi cometida. Portanto, houve o risco de acidente", afirma.

Infração aumenta risco de acidentes no trânsito

A Prefeitura de Belo Horizonte também relaciona os detectores de avanço de sinal com a segurança no trânsito. O crescimento na taxa de atropelamentos preocupa o município, que pensa em ampliar o número de faixas fiscalizadas com detectores de avanço de sinal. Segundo Jussara, após sucessivas quedas, o número de atropelamentos subiu de 1.082 em 2021 para 1.277 em 2022, uma taxa de 5,16 casos por 10 mil veículos. Esses são os dados mais recentes. 

Só no João XXIII, um dos Pronto-Socorros de referência na capital, o número de atropelamentos de pedestres saltou 17% nos últimos dois anos. De janeiro a março de 2022, 249 pessoas foram acidentadas. Já no mesmo período deste ano, foram 291 – ou seja, três por dia. No ano passado, 1.254 pedestres precisaram de atendimento médico.

De acordo com a gerente médica do Complexo Hospitalar de Urgência e Emergência da Fhemig, Daniela Fóscolo, a grande maioria dos atendimentos no hospital são de acidentados no trânsito. Ela reforça que o impacto das batidas é mais intenso nos pedestres, que estão completamente expostos à colisão, principalmente quando os veículos avançam o sinal em alta velocidade.

“Quando a gente trabalha com trauma, existe uma energia cinética, da movimentação. Uma pessoa que é atingida por um veículo em alta velocidade, vai sofrer o impacto daquele veículo sobre ela, seja carro, ônibus ou moto. Ela está desprotegida, e há uma maior tendência a lesões graves”, explica.

O avanço do sinal, além de gerar multa, também causa gastos públicos com internações médicas. Segundo a médica Fóscolo, o mais comum é que os pacientes precisem de pelo menos alguns dias de tratamento no João XXIII. “Dependendo do nível do impacto, essa pessoa pode ter desde uma fratura nos braços ou nas pernas, até, se for um acidente mais violento, politraumatismo, com várias lesões sérias no corpo. Quando acomete o crânio, por exemplo, é um cuidado mais prolongado”, diz. 

A gerente destaca uma diferença nos dados de atendimentos por acidentes de trânsito no João XXIII. Nos anos da pandemia da Covid-19, quando uma das recomendações para prevenção da doença era o distanciamento social, o número de vítimas sofreu uma queda brusca. “Caiu para menos de um terço. Isso ilustra o quanto a situação do trânsito afeta também a saúde. Agora, no pós-pandemia, é essencial seguir as normas na condução e evitar perdas”, alerta.

Como funcionam os detectores de avanço de sinal?

Há diferentes tipos de detectores de avanço de sinal. Alguns podem detectar, por exemplo, conversões proibidas. Mas o conceito básico de todos é o mesmo: registrar em foto ou vídeo a infração.

A partir do momento em que o sinal fica vermelho, o equipamento passa a capturar os veículos que ultrapassarem a faixa de retenção, sinalização horizontal que indica o local limite de imobilização do veículo. Ela é obrigatória em cruzamentos com semáforo e deve estar a, no máximo, um metro de distância da faixa de pedestre, com boa visibilidade do semáforo.

Registrada, a infração é analisada pela entidade ou órgão Executivo de trânsito municipal — a BHTrans, no caso da capital mineira —, responsável por autuar o condutor. Avançar o sinal vermelho é uma infração gravíssima, com pena de sete pontos na Carteira Nacional de Habilitação (CNH) e multa de R$ 293,47. Para ser válido, o registro da autuação deve conter:

  • informações sobre o veículo, como placa e modelo;
  • faixa de retenção do local fiscalizado;
  • foco vermelho do semáforo.

Sinal amarelo é para frear

O especialista em segurança no trânsito Agmar Bento convida os condutores a revisitar as aulas de legislação, que orientam: o sinal amarelo no trânsito não significa "prepare-se para acelerar", mas sim "atenção, freie e prepare-se para parar". Conforme estabelece o Manual Semafórico de 2022, aprovado pelo Contran, a duração da indicação deve variar entre três e cinco segundos, a depender da velocidade da via.

Esse é um ensinamento que o motorista de aplicativo Fernando Ribeiro, de 41 anos, quer passar adiante para seu filho, de 19, que se prepara para iniciar as aulas de direção. "Eu precisei tomar multa para refletir", conta em referência a uma infração cometida há 10 anos, quando quase se envolveu em um acidente.

"Eu estava com pressa, mas coisa do dia a dia. Queria chegar cedo em casa. O sinal ficou amarelo, e eu acelerei. Eu quase bati o carro. Poderia ter sido uma tragédia. Depois disso, nunca mais. Ficou de aprendizado. A gente trabalha com trânsito diariamente e vê que não vale a pena. A vida é muito mais importante", relembrou.

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