CIDADES

A reportagem

Redação O Tempo


Publicado em 26 de julho de 2016 | 18:27
 
 
 
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“Eu vou ficar famosa!”, disse Ângela quando soube que sairia no jornal. “Famosa nesse momento ruim, doente, né?”, completou em seguida. Mas aceitou nossa proposta de acompanhar seu tratamento até o fim. Quando tiramos a primeira foto dela com os netos, ela falou que ainda não tinha registro com o mais novo (de 1 ano) no colo. Quis sair bonita, pediu para passar batom. Deixamos a primeira visita aflitos por conhecer alguém que morreria dali pouco tempo, mas a verdade é que todos vão morrer, e muitos se foram antes dela. Para que fosse mais fácil lidar com a situação, se é que era possível, buscamos pensar que a matéria poderia ser sobre a cura, e não o fim.

Incêndios

A enfermidade de Ângela, por vezes, ficava em segundo plano diante dos problemas da família. Um deles foi quando houve um curto-circuito no apartamento, em setembro de 2015, queimando todos os móveis e destruindo a reforma que ela tinha feito com o pouco dinheiro que recebia – um salário mínimo de auxílio-doença. Dali para frente, os tumores pioraram. Em abril de 2016, ela perdeu a memória e recebeu diagnóstico de morte iminente, pois o câncer teria atingido a cabeça. Toda a família foi despedir-se no hospital. Mas foi “alarme falso”, tinha tido só um estresse. “A gente sofreu à toa”, falou a filha Ludmila Batista.

Perdas

Desde que fomos apresentadas, o semblante de Ângela guardava o remorso por ter adoecido, ao passo que agradecia a Deus pelo restinho de vida que lhe dera. Ela sentia muita dor no peito. Os nódulos do pescoço cresciam quando ficava nervosa. “Tem dia que me sinto bem, mas tem dia que estou bastante debilitada”, oscilava. De frente para o espelho, ela não enxergava-se mais. Desanimava por não poder ir ver um supermercado que inaugurara perto de casa. “Tem vez que quero ir lá fora olhar minhas plantas, mas me dá aquele cansaço”. Quando a cadela Shakira, companheira de 11 anos, morreu, ela chorou muito, não sustentava perder mais.

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