As aulas do curso de história da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) foram suspensas por tempo indeterminado, conforme comunicado oficial enviado na manhã desta sexta. A medida foi tomada pelo Departamento de História devido a denúncias de venda de drogas, assédios, furtos, abandono dos espaços de convivência e falta de segurança dentro da universidade. O problema será discutido pela Congregação da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas (Fafich), na próxima segunda-feira.
Estudantes relatam que no prédio da Fafich ocorre tráfico de drogas, praticado por pessoas de fora da comunidade acadêmica. A situação provoca um clima de insegurança, agravado por arrombamentos e roubos em escritórios de professores. Há um consenso entre os alunos de que o problema existe, mas há pontos de discordância se eles estão relacionados à presença de jovens de fora da universidade.
Além disso, o período letivo começou com relatos de depredação do prédio, assédio a mulheres, chegando ao extremo de banheiros femininos serem invadidos por homens, e até agressão contra gays, nos banheiros masculinos. A situação gera conflito na comunidade, que historicamente defendeu a inclusão social e o respeito às minorias e se vê agora no dilema de adotar medidas para solucionar o problema sem restringir o acesso de pessoas de fora da comunidade acadêmica, como quer a maioria dos estudantes.
“O tráfico de drogas sempre existiu dentro da UFMG, mas, nos últimos anos, o problema vem se intensificando e ficando mais escancarado. Uma hora ou outra, sabíamos que ia externalizar”, diz um aluno da Fafich, de 21 anos, que pediu para não ser identificado. Estudante há dois anos e meio da instituição, ele também confirma ocorrência de furtos dentro da instituição.
Abandono. Outra estudante, de 19 anos, do curso de comunicação social, conta que a presença de adolescentes de fora da instituição se intensificou em setembro do ano passado, mas pondera que o problema de segurança não está relacionado a esses jovens. “Antes deles havia meninos do Coltec (colégio técnico da UFMG), que também usavam drogas e tumultuavam o local. Mas essa discussão não ocorreu porque eram jovens de classe média”, criticou.
Para ela, o principal problema é o abandono do Diretório Acadêmico, que, por falta de verba, não pôde ser reformado, para atrair os estudantes ao local.
A universidade informou que as unidades têm autonomia para suspender as aulas e que estão se mobilizando para medidas de segurança dentro do campus. Como medida emergencial, será intensificada a presença de segurança móvel, para coibir a circulação de pessoas externas à universidade.
Diretório
O Diretoria Acadêmico (DA) da Fafich informou, em nota, que acredita “que a venda de drogas é algo antigo e camuflado quando feito por estudantes”. Conforme o texto, o assunto precisa ser debatido em sociedade porque “a política do Estado é falha”. Ainda conforme o DA, o assédio a mulheres e a perseguição a homossexuais e negros são frequentes, e a universidade “sempre se omitiu e poucas vezes puniu”.
Outros cursos
Vigilância. A reitoria informou que, como medida emergencial, haverá rondas noturnas na Fafich, com um segurança por andar. A estratégia foi pensada para “assegurar uma ação de vigilância integrada e articulada”.
Reunião. A Congregação da Fafich, órgão deliberativo da unidade, vai se reunir na próxima segunda-feira para decidir se pedirá a intervenção policial e se vai ocorrer à suspensão das aulas em outros cursos.
Segurança no campus da UFMG sempre levantou polêmica
Toda vez que um crime é registrado no campus da UFMG, a discussão sobre o policiamento no campus é retomada. De um lado, os que são contra, alegando que o espaço é público e que a presença dos policiais é uma volta ao regime militar. Do outro, estão aqueles que defendem o policiamento como uma forma de garantir a segurança.
Hoje, segundo a cavalaria, os militares agem nas áreas abertas do campus Pampulha, conforme convênio da PM com a universidade. O trabalho é feito à cavalo, com dois militares, das 11h às 16h. No período da noite, não há policiamento.
Dentro dos prédios, a responsabilidade é da universidade e da Polícia Federal. Em nota, a PF informou que “tem trabalhado, com a Reitoria, na busca de uma ação integrada para prevenção e repressão do tráfico de drogas” na Fafich.