Mesmo sem ainda entender e preocupada, por enquanto, apenas em conhecer o mundo, a recém-nascida Marta Schembri Freitas criou, ao seu redor, um círculo de amor que já está gerando frutos como a sua própria sobrevivência e um plus no estoque dos bancos de leite de Belo Horizonte. É que na madrugada da última segunda-feira (27), logo ao nascer, ela perdeu a mãe, a artista plástica Raquel Schembri, de 32 anos, por complicações no parto.
Desde então, amigos e conhecidos da família iniciaram uma busca por doações de leite para amamentar a pequena e as postagens na internet passaram a atingir também desconhecidos. Os compartilhamentos do "círculo do amor" nas redes sociais crescem a cada dia e mesmo quem não conheceu a Raquel, passou a conhecer sua história que continua na pequena Marta. Com apenas quatro dias, ela continua internada no hospital onde nasceu, o Sofia Feldman, mesmo local onde estão sendo concentradas as doações.
Uma amiga de Raquel, que preferiu não se identificar, explica que o parto foi normal, mas a artista plástica acabou não resistindo à chamada Síndrome Hellp, uma rara complicação obstetrícia que dificilmente é diagnosticada antes do parto. Por atingir também o bebê, Marta continua em observação na unidade por causa do período de estabilização. Mas segundo a amiga de Raquel, seu quadro já é melhor.
A ginecologista e primeira-secretária do Conselho Regional de Medicina de Minas Gerais (CRM-MG), Cláudia Navarro, explica: "A Síndrome Hellp pode ser precedida da chamada pré-eclâmpsia grave. É bom lembrar que a pré-eclâmpsia fraca ou moderada não gera a síndrome, apenas quando ela é do tipo grave. Ela ocorre quando há um aumento na pressão arterial, perda de proteína na urina e edema na gravidez".
Segundo a especialista, a síndrome é fulminante e difícil de se diagnosticar. "Geralmente, a Síndrome Hellp se instala muito rapidamente e é um quadro que tem uma mortalidade muito alta. É preciso interromper a gravidez independente do período de gestação para salvar a vida da mãe, infelizmente, não há outro jeito. Por evoluir muito rapidamente, a síndrome pode levar à morte independente da atuação dos médicos", completa.
Como doar
A partir desta quinta-feira (30) a pequena Marta já passou a ser amamentada com o leite disponível no estoque do hospital, mas as doações são necessárias para manter o estoque, já que o leite doado, antes de ir para o bebê, precisa passar por um processo de pasteurização, que demora um pouco mais.
É possível se cadastrar para doar indo diretamente ao Hospital Sofia Feldman em qualquer dia da semana entre 7h e 17h40, ou ligando em qualquer horário para o lactário da unidade no telefone 3408-2256, dando o nome da recém-nascida, Marta Schembri Freitas. A primeira doação é feita no hospital, mas as outras podem ser feitas na casa da doadora, com o agendamento das visitas das enfermeiras no mesmo número.
Alguns critérios devem ser seguidos para a doação como: estar amamentando, ter leite excedente, não fazer uso de bebidas alcoólicas, cigarros ou outras drogas, não ter tido hepatite, não ter recebido transfusão de sangue nos últimos cinco anos e apresentar os exames de pré-natal.
A jornalista Raquel Santiago, de 35 anos, que também compartilhou o círculo de amor da pequena Marta, conta que foi doadora de leite materno por oito meses e pretende ser novamente após o nascimento de seu segundo filho. A ação, segundo ela, é bem simples e pode salvar vidas.
"O que me motivou a ser doadora foi a gratidão por ter tido uma filha tão saudável. O aleitamento materno faz toda a diferença na saúde do bebê. A minha filha, por exemplo, que hoje tem 1 ano e 2 meses, teve amamentação exclusiva por seis meses e nunca ficou doente, superou melhor as cólicas e era extremamente calma", lembra.
Hospital Sofia Feldman: rua Antônio Bandeira, 1060 - bairro Tupi
Telefone do Lactário: 3408-2256
ATUALIZAÇÃO
Com a grande repercussão do "círculo de amor" o hospital Sofia Feldman informou que as doações estouraram o limite da capacidade da unidade. Clique aqui e entenda.