Ouro Preto. O ritmo na cidade do Ouro Preto, na região Central, seguia normalmente na tarde de ontem, com pessoas andando apressadas pela movimentada praça da Estação, até que um assunto polêmico chamou a atenção dos moradores. Em uma espécie de varal montado no local, foram pendurados relatos de mulheres que afirmam ter sido vítimas de violência sexual na cidade. Os textos eram lidos para os pedestres, e cerca de 20 mulheres dançavam, em uma performance, durante ato promovido pelo Núcleo de Investigações Feministas (Ninfeias). As supostas agressões vêm sendo mostradas por O TEMPO desde o último dia 11.
Espantadas com as histórias, muitas pessoas que presenciaram o ato relataram descontentamento com o abuso de álcool e de drogas nas repúblicas onde moram alunos da Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop). “Vejo meninas bêbadas saindo dessas festas, e isso é ruim. Elas não sabem o que está acontecendo, e os caras se aproveitam disso”, revela a dona de casa Rozilda Pereira da Silva Souza, 43.
“Não deixo minhas filhas frequentarem as repúblicas. Acho que a situação deveria ser mais controlada pela universidade e pelos pais desses alunos”, ressalta.
Após o ato na praça, os participantes caminharam até a reitoria da Ufop, onde leram, em coro, uma carta elaborada por estudantes, docentes e movimentos coletivos da cidade, pedindo um posicionamento da instituição de ensino. Com duas laudas sobre as denúncias e a gravidade do problema, o documento foi entregue a um representante do reitor da instituição.
“Esse assunto não era discutido antes, mas, agora, está sendo levado a público, o que é muito importante. Acho que vai haver uma comoção na cidade. Os casos (publicados por O TEMPO) repercutiram muito na internet”, conta a moradora Olga Penna, 23, que participou do ato. A jovem acredita que a situação das repúblicas precisa ser discutida mais amplamente.
Denúncias. Presidente da Associação das Repúblicas Federais de Ouro Preto (Refop), Raphael Souza chama a atenção para a importância de denúncias oficiais – que ainda não existem. Segundo ele, caso os responsáveis sejam identificados, a entidade irá tomar medidas para acabar com o problema.
“Não podemos controlar isso (os supostos abusos) sem saber quem são os responsáveis. Estamos à disposição para ajudar”, afirmou.
A vice-reitora da universidade, Célia Maria, afirmou que existem pessoas dentro da Ufop preparadas para receber as denúncias e atender as mulheres. Segundo ela, a Pró-Reitoria de Assuntos Comunitários conta com psicólogos e profissionais aptos para acompanhar os casos.
“O movimento dessas mulheres é legítimo, e já estamos discutindo a situação. Precisamos receber essas denúncias para atuar diretamente. Quem procurar o atendimento terá a garantia do sigilo”, explica.
Organização. Professora de artes cênicas e integrante do Ninfeias, Nina Caetano explicou que o grupo está abrindo espaço para receber os relatos e, posteriormente, encaminhar oficialmente denúncias aos órgãos competentes.