Dois anos após a inauguração da primeira ciclovia em Belo Horizonte, as faixas exclusivas para bicicletas ainda são subutilizadas. A reportagem passou duas horas em dois dos principais trechos da cidade, ambos na região da Savassi, na manhã de ontem. Em um deles, que liga as ruas Professor Morais e Piauí, passaram apenas quatro ciclistas – um a cada 15 minutos. Situação pior foi encontrada na ciclofaixa da rua Fernandes Tourinho, entre a avenida Getúlio Vargas e a rua da Bahia, por onde passaram dois ciclistas em uma hora – um a cada 30 minutos.
Quem usa as ciclovias diz que elas são pouco utilizadas por razões velhas e conhecidas da Empresa de Transportes e Trânsito de Belo Horizonte (BHTrans). “As vias não se comunicam. A ciclovia da Professor Morais deveria ter continuidade na avenida do Contorno, mas não é o que acontece”, reclama Pedro Moral, 31, que há 13 anos trabalha como cicloboy, versão para bicicleta do motoboy.
Segundo a BHTrans, com a conclusão dos 100 km de ciclovias prometidos para o fim do ano – até agora 58 km foram construídos – haverá ligação entre as vias. “O objetivo nesse primeiro momento era educativo, para já incentivar o uso das bicicletas”, disse o supervisor de projetos e obras especiais da empresa, Mauro Luiz Cardoso.
O especialista em mobilidade da PUC Minas Manuel Teixeira, no entanto, afirma que, sozinhos, esses trechos não conseguem ser uma opção de transporte, até por causa das características de relevo da capital. “Seria melhor, então, ter construído um circuito completo ao invés de vários deles picados. É preciso haver ligação entre os trechos e com o BRT, o metrô ”, rebateu o especialista.
A BHTrans investiu R$ 454 mil para fazer os dois trechos da região. O fluxo encontrado, ontem, pela reportagem é menor que o registrado em 2010 em um estudo feito pelo movimento Mountain Bike BH, a pedido da BHTrans, que apontava uma média de cinco ciclistas por hora na Savassi. Foi esse estudo, inclusive, que motivou a escolha dos trechos.
Túlio Jorge
Biólogo
Verba. Dos R$ 3 milhões utilizados na criação das ciclovias até 2012, R$ 1,2 milhão foram usados para elaborar projetos executivos que dizem respeito a obras em 114 km de ciclovias – menos da metade dos 380 km previstos para serem implantados até 2020.