Desde o início da manhã desta quinta-feira (16) uma pergunta vem ocupando a mente de muitos mineiros: o que é o Perfeitaísmo? A palavra foi pichada na noite de quarta-feira (15) no mural de Paulo Werneck na lateral da igreja São Francisco de Assis, mais conhecida como igreja da Pampulha, e rapidamente as imagens com o escrito se espalharam nas redes sociais intrigando a população.
Em uma busca nas redes sociais, a reportagem de conseguiu localizar uma página que declara que o Perfeitaísmo é um "novo sistema político-financeiro", voltado para a "sociedade do bem". Com mais de 41 mil seguidores no Facebook, o criador do ideal, o belo-horizontino Wesley Abreu, utiliza a página basicamente para divulgar o seu livro, lançado por volta de 2013, e que pode ser lido gratuitamente na internet.
"O Perfeitaísmo é o sistema político-financeiro perfeito para a organização da vida em sociedade, portanto apresenta formas 100% justas, capazes de melhorar ao máximo possível a qualidade de vida de todos os meus membros, gerando inúmeros benefícios que irão formar a melhor e mais rica sociedade que poderá existir", prega o livro em suas páginas iniciais.
Ainda de acordo com o livro, o sistema consiste em gerar o maior número possível de riquezas, promovendo a criação de produtos na melhor qualidade, com a sociedade obtendo o máximo proveito do trabalho, garantindo que não faltará empregos ou recursos financeiros. "Não haverá empecilhos na geração de empregos, não haverá motivos para pedidos de empréstimos bancários, não haverá cobranças de juros, pois todas as pessoas membros desta sociedade terão acesso a grandes quantias em créditos financeiros", explica o autor.
Estes créditos, ainda conforme o livro, seriam disponibilizados apenas de forma eletrônica, eliminando o dinheiro em papel, e distribuídos apenas para projetos que gerariam riqueza para a sociedade. Toda a movimentação ficaria registrada, identificando a origem e o objetivo do "dinheiro", para, com isso, evitar que qualquer pessoa obtenha este crédito de forma desonesta.
Filósofo
Na capa do livro, o autor se auto intitula "um dos maiores filósofos do mundo". Ele se justifica dizendo que se considerará um dos maiores filósofos até "encontrar alguém capaz de superar meus conhecimentos, provando que o Perfeitaísmo não é o sistema político-financeiro perfeito para organização de uma sociedade do bem".
FOTO: REPRODUÇÃO / PERFEITAISMO.COM |
O livro pode ser lido gratuitamente no site oficial |
O TEMPO entrou em contato com Wesley Abreu, que respondeu que está a disposição da imprensa para prestar "qualquer tipo de esclarecimento sobre o meu trabalho", mas não se esquivou de comentar sobre a pichação. "Sou filósofo, e realmente eu não entendo o significado de patrimônio da humanidade e nem o significado da palavra pichação. As explicações que existem sobres estes fatos não fazem sentindo algum", disse.
Pressionado, Abreu chegou a perguntar se o jornalista sabia de alguma coisa ou se a sua "avó ensinou tudo o que sabe". "Me desculpe, mas você parece ser uma pessoa totalmente manipulada pelo sistema. Você precisa estudar o Perfeitaísmo, antes de tentar falar qualquer coisa comigo", completou o autor do sistema.
"Eu vejo placas ou paredes pintadas dizendo algo em prédios, públicos e particulares. Só não sei se forão (sic) escritos por pincel ou tinta spray. Mas posso afirmar com toda certeza, não embelezam a cidade. As pessoas colocam placas enormes para mostrarem o nome de suas empresas, a prefeitura também faz isto. Mas sei que você acredita que isto não se enquadra na categoria pichação", continuou Abreu.
Por fim, indagado mais uma vez sobre o que achava do fato da igreja ter sido pichada com o nome de sua criação, o "filósofo" respondeu que não acha nada de coisa alguma. "Me interesso pela verdade", finalizou.
A pichação
No fim da noite dessa quarta-feira (15), guardas municipais perceberam a depredação em uma das paredes da igreja da Pampulha, durante uma ronda, e chamaram a Polícia Militar (PM). A estrutura com banheiros e bebedouros da Prefeitura de Belo Horizonte, em uma praça em frente à igreja, também foi pichada. Até o momento, não se sabe quem cometeu o crime e nenhum material foi apreendido no local. A igreja é vigiada por câmeras do Olho Vivo, que podem ter flagrado a ação.
Há quase um ano, no dia 21 de março de 2016, a igreja foi alvo de pichações. O prédio, que faz parte do conjunto arquitetônico da Pampulha, formado pelo Iate Tênis Clube, o Museu de Arte Moderna e a Casa do Baile, é também um dos cartões postais da capital.