Sul de Minas

Conselheira amorosa que deu golpe em casal em Alterosa continua sumida

Mulher teria se aproveitado da fé das vítimas e roubou R$ 65 mil da venda de uma casa; delegado vai pedir quebra do sigilo telefônico da suspeita; Gabriela divulgava os serviços por meio de um panfleto

Por Fernanda Viegas
Publicado em 07 de outubro de 2014 | 10:11
 
 
 
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Mais de três meses se passaram e a Polícia Civil não tem nenhuma pista do paradeiro da conselheira amorosa e espiritual, conhecida apenas como Gabriela, que teria se aproveitado da fé de um casal, que passava por um mal momento no casamento, e deu um golpe neles de R$ 65 mil, em Alterosa, no Sul de Minas Gerais, no final de junho deste ano. Por meio de um panfleto que prometia "milagres" distribuído na cidade, as vítimas conheceram e fizeram várias consultas com a mulher.

Na época, a suspeita convenceu o motorista e a professora de que uma casa que eles tinham estava amaldiçoada e deveria ser vendida a qualquer preço - residência valia R$ 90 mil, segundo o casal. O dinheiro recebido pela venda do imóvel foi levado à mulher para uma benção, mas acabou desaparecendo junto com a suspeita.

O crime, aparentemente perfeito, parece estar longe de uma conclusão. O delegado de Areado, na mesma região, Alexsander Bueno de Souza, ainda não nem indícios do estelionato.

"Por enquanto ainda não temos nada, uma vez que o rapaz que vivia com ela usou dados falsos para alugar a casa e fazer o contrato de aluguel. Eles pagaram dois meses adiantado e, com isso, eles não foram identificados. Além disso, ninguém anotou placa e nem pegou detalhes sobre o carro que eles utilizavam. (...) O problema é que nós não temos nenhum registro de imagem dela (da suspeita), o que complica muito", disse.

O casal também não tem mais esperanças de encontrar a suspeita. "Não temos pista, não temos nada. E só naquele dia que o panfleto dela circulou na cidade", lembrou o motorista, de 41 anos.

A professora, de 38 anos, chegou a passar por constrangimentos, após a história vir à tona. Ela afirma não gostar nem de passar perto da casa, onde Gabriela fazia os atendimentos, na praça Getúlio Vargas, no centro, porque não lhe traz boas recordações. "Diz que nem é considerado roubo, porque foi eu que levei o dinheiro para ela abençoar. As pessoas não acreditam na história e acham que eu é que estou dando o golpe", lamentou.

O próximo passo do delegado será pedir a quebra do sigilo dos números usados pela suspeita e divulgados na propaganda dela. Desde o crime, os números de celular não atendem. "Talvez não encontremos nada. São estelionatários muito bem preparados", adiantou Souza.

Além disso, a polícia continua a fazer buscas na região atrás da mulher e desse homem que a ajudaria nos golpes. "Chegamos a identificar uma mulher que atuava de forma semelhante em Tupaciguara, no Triângulo, sendo que a suspeita já tem até mandado de prisão, mas não era a mesma de Alterosa, já que não foi reconhecida pela vítima. Vamos continuar investigando e ainda tem outras pessoas que estamos com suspeitas", garantiu. 

Relembre o caso

O homem, um motorista de 41 anos, recebeu na rua um panfleto com os dizeres “conselheira espiritual e benzedeira”, que continha apenas números de telefone. Como ele e a mulher, de 38 anos, estavam passando por um momento difícil no relacionamento, tendo inclusive terminado por uma vez, resolveu entrar em contato com a conselheira, sem comunicar sua companheira.

A vítima foi muito bem recebida e marcou uma consulta para a manhã do dia seguinte. Na casa, onde a mulher, conhecida como Gabriela, atendia, na praça Getúlio Vargas, no centro, em frente a igreja matriz da cidade, o homem foi atendido e ouviu garantias de que a sua vida amorosa iria ficar bem, com a oração que ela faria para o casal. Ainda pediu para que ele levasse a mulher dele para os encontros com ela. 

“O cenário da casa era assim: na entrada já tem uma imagem de Nossa Senhora Aparecida. Entrando, você tinha uma mesa com uma imagem grande de Nosso Senhor Jesus Cristo, e nas costas tinha mais uma Nossa Senhora, muitas velas, incenso de Santo Expedito, de Santa Rita de Cássia”, lembrou a professora.

Durante 15 dias, o casal se encontrou com a Gabriela. Em meio a orações e conselhos, a mulher disse ao motorista e à professora que uma casa que eles tinham estava amaldiçoada e que eles deveriam se livrar dela pelo preço que fosse. “Ela começou a falar coisas pessoais da nossa vida, coisas que ela não sabia, porque não nos conhecia. Falou que tínhamos algo na nossa vida espiritual que atrapalhava nós dois e que tínhamos que nos livrar disso, que seria a nossa libertação”.

“A gente fica totalmente envolvida, a minha família estava reconstruída, só aconteciam coisas boas na minha vida. Eu sentia confiança na palavra dela, porque ela usava Deus, Nossa Senhora, o Espírito Santo. Você conhece pessoa melhor que essa para a gente confiar? Mas agora eu sei que muitos falam no nome Dele, mas é falso”, desabafou a professora.

A Polícia Militar informou na época que a suspeita estava na cidade há cerca de dois meses e desapareceu sem deixar rastros. Ao casal, Gabriela teria contado ser rica, natural de Alfenas, que tinha dois filhos que cuidavam dos bens da família, um frigorífero e uma fazenda, com o marido dela. Uma criança de 8 anos morava com a golpista e atendia às ligações dos clientes. Ela dizia que a menina era também sua filha, mesmo não sendo chamada de mãe por ela.

Uma toalha esotérica, com franja e desenhos de sol e lua, era usada pela estelionatária, que distribuía orações católicas às pessoas que atendia. Ainda, a suspeita levou cerca de R$ 800 em objetos do casal, que ela pedia para benzer. Eram lingeries, roupas infantis da filha de 9 anos do casal, pijamas, toalhas e perfumes.

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