No mês em que a abolição da escravatura no Brasil completa 127 anos, um grupo de estudantes da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), na Zona da Mata, quer transformar a data, celebrada nesta quarta, em um marco no combate ao racismo ainda presente na sociedade, e que, por vezes passa despercebido. Eles aderiram à campanha #ahbrancodaumtempo (Ah, branco, dá um tempo!), em que alunos negros posam para fotos com cartazes com frases preconceituosas que já ouviram durante a vida. A ação começou na Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, e no Brasil já foi realizada na Universidade de Brasília (UnB) e na Universidade Federal da Bahia (UFBA).
A ideia é aproveitar o dia 13 de maio (aniversário da Lei Áurea) para divulgar a campanha e mostrar que, após mais de um século da abolição, os negros ainda são minoria na representação social e precisam enfrentar comentários racistas. Duas sessões para fotografar os alunos já foram realizadas na UFJF, e uma exposição está programada para esta quarta. Também serão produzidas novas fotografias no campus.
Uma das organizadoras da campanha, a estudante de comunicação Paula Duarte, 25, destaca que as fotos mostram a dimensão do racismo sofrido pelos negros em atitudes cotidianas.
“Nós conversamos com as pessoas antes de fazermos a foto, porque queremos mostrar uma experiência real do preconceito vivido. Há uma ilusão no Brasil de que estamos em uma democracia racial, sendo que, em conversas cotidianas, ouvimos frase preconceituosas que, de tão arraigadas na cultura brasileira, às vezes a ficha de que fomos alvo de racismo até demora a cair.”
A reitoria da UFJF apoia publicamente a campanha. A diretora de Ações Afirmativas da universidade, Carolina Bezerra Perez, tirou uma foto para a campanha, que foi postada no perfil oficial da instituição, no Facebook. “O racismo existe, e a UFJF luta contra ele”, dizia o cartaz carregado por Carolina. Apoio.
Até a noite desta segunda, 197 pessoas já haviam confirmado presença no evento que será realizado nesta quarta, às 11h, no restaurante universitário da instituição.
A iniciativa
Harvard. A campanha teve início em 2014, com estudantes de Harvard postando fotos com frases de preconceito. Lá, o nome foi #Itooamharvard (Eu também sou Harvard, em tradução livre).
UnB. No Brasil, a campanha foi adaptada por estudantes da Universidade de Brasília (UnB). A tradução feita para o português batizou a ação de #Ahbrancodaumtempo. Também aderiram ao projeto a Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) e a Universidade Federal da Bahia (UFBA).
Sala de aula
Ensino. Os estudantes da UFJF vão aproveitar o evento para cobrar o cumprimento da diretriz do Ministério da Educação que prevê aulas de história e cultura afro-brasileiras em todos os cursos.