Dia Mundial da Água

De olho no futuro

Principais soluções contra escassez no mundo são centradas no tratamento e no reúso da água em larga escala

Por Juliana Siqueira
Publicado em 22 de março de 2018 | 03:00
 
 
 
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Praticamente todo mundo já deve ter ouvido alguma vez que a água vai acabar e até mesmo que haverá uma terceira guerra mundial por causa disso. Diante desse cenário, uma das perguntas mais recorrentes é: o que fazer? Afinal de contas, o que temos disponível para contornar o problema da escassez? O que a ciência tem feito a respeito do assunto?

Atualmente, existem diversas alternativas para que a água continue a existir. Conforme destaca o professor José Tundisi, coordenador do grupo de estudos sobre recursos hídricos da Academia Brasileira de Ciências (ABC), as melhores opções são centradas no tratamento e no reúso da água em larga escala, na redução drástica da demanda de água, na transposição de águas entre bacias, no equilíbrio no uso de águas superficiais e águas subterrâneas e, caso seja possível financeiramente, a dessalinização da água do mar. “O reúso de água é uma prática que é mais recente e muito efetiva em alguns países da Europa, em alguns Estados americanos e em regiões do Oriente Médio”, salienta ele.

O profissional explica que essas ações funcionam bem caso haja uma boa gestão das águas e que nem todas são aplicadas de maneira simultânea. “Todas essas alternativas aumentam a disponibilidade de água, a segurança hídrica e a saúde da população, uma vez que a falta de água põe em risco a saúde das pessoas”, frisa Tundisi.

Mas, se soluções existem, por que muitas delas ainda não fazem parte do cotidiano de uma maneira mais efetiva? Os desafios também se fazem presentes e podem dificultar esse quadro. Para Tundisi, quando se fala na dessalinização, esses problemas são de ordem tecnológica e financeira. No caso do reúso, estão relacionados a questões técnicas e culturais. “Também há limitações culturais na redução da demanda”, afirma ele.

Roberval Tavares, presidente nacional da Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental (Abes), também destaca entraves na hora de utilizar algumas dessas alternativas, o que explica até mesmo por que o Brasil ainda não usa, em larga escala, algumas delas. “Quando se fala em retirar a água do mar, por exemplo, há a viabilidade em cidades litorâneas; já nas outras, existem mais custos envolvidos, como os relacionados ao transporte. Além disso, o Brasil é, em grande parte, abundante em água doce, e é mais viável tratar esse tipo de água do que a salgada”, diz ele.

Fato é, no entanto, que, com o tempo, algumas coisas vêm mudando e já é possível perceber que há recursos sendo aproveitados para proteger a água. Tavares salienta, por exemplo, que existem muitos edifícios que já contam com projetos que focam a captação da chuva para utilização posterior. “Isso já acontece em diversos lugares, o que é muito positivo. A água é acumulada para depois ser utilizada na rega do jardim ou na limpeza da área comum, por exemplo”, frisa.

Atitudes exemplares

A palavra “economia” está cada vez mais relacionada à água. Ela se manifesta de diferentes maneiras e gera resultados bastante significativos, que vão desde a preservação da natureza, passando por mais dinheiro na conta, até uma imagem melhor das empresas que verdadeiramente se preocupam com o destino desse recurso.

No Colégio Sagrado Coração de Jesus, em Belo Horizonte, essa é uma lição diária. Conforme ressalta o professor Hélio Vilaça, os estudantes são sempre orientados em relação ao tema. Além disso, o colégio tem um reservatório com capacidade média para 500 mil litros de água, que é recolhida da chuva. O material passa por três filtros e recebe adição de cloro, tratamento físico e químico. Posteriormente, é usado em serviços de limpeza e sanitários. “Isso gerou uma economia de água de 70%”, frisa. Além disso, o chuveiro e as piscinas são aquecidos por meio da luz solar, bem como a iluminação do pátio da escola. “Temos, ainda, sanitários que economizam água, e a grande maioria das torneiras é automática”, destaca Vilaça.

O Colégio Batista também segue esse caminho. Conforme afirma Valseni Braga, diretor geral da Rede Batista de Educação, os sanitários e as torneiras também foram substituídos por modelos que geram mais economia e há, ainda, reservatório para captação de água pluvial.

No Estádio Governador Magalhães Pinto, o Mineirão, a utilização de água da chuva implantada no local poupou aproximadamente 75 mil metros cúbicos de água, o que equivale a 30 piscinas olímpicas, e reduziu os gastos com o recurso hídrico em R$ 1,1 milhão de janeiro de 2014 a dezembro de 2017. A água de reúso vai para bacias, mictórios e irrigação do gramado.

Já o Ouro Minas Palace Hotel reaproveita a água do ar-condicionado para molhar o jardim e lavar o pátio. Além disso, conta com sensores de presença em 100% das acomodações e trocou as lâmpadas comuns por modelos de LED. Placas solares aquecem piscinas e torneiras para banho.

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