Os problemas urbanos que Belo Horizonte sofre atualmente e serão ainda mais graves no futuro não podem ser creditados apenas às mudanças climáticas. Para especialistas, a situação está muito mais ligada ao descaso do poder público com as questões ligadas ao meio ambiente.
Doutor em direito com vários anos de atuação na área ambiental, o advogado Bruno Albergaria faz uma relação muito clara entre os quatro pilares – dengue, deslizamentos, inundações e ondas de calor – apresentados pelo estudo. “Quando o assunto é meio ambiente, tudo está interligado. As inundações e os deslizamentos são provocados pela impermeabilização do solo, que consequentemente provoca ondas de calor. A água não tem para onde escoar e resulta nestes casos. A falta de cuidado com o esgoto produz os criadouros de mosquitos e os focos de doenças”, explicou o advogado.
Para o especialista, enquanto a sociedade não respeitar a natureza, vai pagar um preço. “Temos que mudar a lei de ocupação do solo com urgência, construir redes de esgoto, parar de cobrir os rios como estão fazendo em Belo Horizonte. Isso é uma bomba-relógio. Os efeitos estão aí nas avenidas Francisco Sá, Prudente de Morais, Vilarinho e tantas outras”, disse.
Segundo Albergaria, as autoridades estão preocupadas só com medidas paliativas, que, no futuro, se transformam em problemas. “Veja o caso do ribeirão Arrudas. Está sendo todo coberto no centro para melhorar o sistema viário. É um absurdo. Não posso afirmar quando, mas, uma hora, aquilo vai, literalmente, explodir”, completou.
Como exemplo a ser seguido, Albergaria cita cidades como Londres, Roma, Paris e Lisboa, que foram construídas ao redor de rios, respeitando os limites da natureza. “Aqui, acontece o contrário. As consequências são inevitáveis”, afirmou.
Crítica. Consultor ambiental com 35 anos de experiência, Cláudio Guerra faz uma ressalva sobre a eficácia do estudo apresentado nessa quarta (7). “Pesquisas, existem várias, mas faltam ações. A prefeitura já tinha elaborado um estudo que resultou no Planejamento Estratégico Belo Horizonte 2030. Só que foi um documento feito por muitos técnicos, sem observar a cidade como um todo. Então, muitas ações propostas são impossíveis de serem colocadas em prática. Seriam ideais em cidades do primeiro mundo”, comparou o especialista.
Para ele, o poder público deveria realizar reuniões nas diferentes partes da cidade, para conhecer de perto o problema de cada uma e traçar um planejamento estratégico específico. “Mas é mais fácil contratar uma empresa de consultoria ambiental e elaborar um relatório. Só que a eficácia é bem pequena”, criticou Guerra.
“Qualquer geólogo que roda pela a cidade fica assustado com as coisas que são feitas aqui. A Cristiano Machado, por exemplo, inunda porque a água não tem para onde escoar. Vários córregos passam ali por baixo naquela região e não comportam o volume”, exemplificou.
Cenário
Áreas vulneráveis vão aumentar 60%
Os bairros Vila Nossa Senhora da Conceição e Marçola, na Rregião Centro-Sul, são os mais vulneráveis atualmente e permanecerão altamente ameaçados em 2030, segundo o estudo apresentado nessa quarta (7). Os principais problemas dessas duas vizinhanças são alagamentos e deslizamentos.
A previsão não é nada otimista para o restante de Belo Horizonte. Estima-se que até aquele ano o número de bairros em vulnerabilidade na capital mineira seja 60% maior do que é hoje, totalizando 331 dos 486 existentes.
As regionais Noroeste, Oeste e Nordeste são aquelas com os maiores aumentos no número de bairros ameaçados. Mas são os bairros das regionais Norte, Nordeste e Leste que apresentam as principais áreas de vulnerabilidade, chamadas de “hotspots”.
A regional Barreiro, apesar de possuir poucos hotspots tanto no cenário atual quanto em 2030, deverá triplicar estes números nesse período. (GC)
Prevenção
Medidas já estão em andamento, diz PBH
Apesar da vulnerabilidade de Belo Horizonte apontada pelo estudo, medidas contra as ameaças identificadas já são tomadas na capital, de acordo com o vice-prefeito, Délio Malheiros.
“Investimos muito pesado contra as inundações, com criação de canais, escoamento de água, tratamento de fundo de vale. Estamos fazendo bacias de retenção no Barreiro e no ribeirão Arrudas, já temos obras também na bacia do Onça”, pontuou. Segundo Malheiros, para evitar deslizamentos, a prefeitura tem feito remoção das pessoas das áreas de risco.
Em relação ao combate à dengue, o vice-prefeito ressaltou as ações de prevenção feitas pelo município “todos os anos”. Segundo ele, o Novo Plano Diretor, que tramita na Câmara Municipal, pode ajudar a minimizar as ondas de calor, ao estabelecer a exigência de áreas verdes.
“Acho que tudo deve ser melhorado, principalmente a questão da educação ambiental e das políticas públicas das convivências de área de risco, mostrando os riscos dessas ocupações”, afirmou Malheiros. (RM)
Sudecap promete R$ 1 bi em obras
Investimentos. Segundo a Superintendência de Desenvolvimento da Capital (Sudecap), nos últimos anos, a prefeitura investiu cerca de R$ 1,29 bilhão em obras de prevenção e combate a inundações, e outros R$ 1 bilhão estão previstos para os próximos anos. No entanto, as intervenções seguem atrasadas, como a bacia do córrego dos Pintos, na avenida Francisco de Sá, na região Oeste, que tinha previsão de conclusão em 2015, mas nem começou.
Custo. Foram investidos R$ 850 mil no estudo, pagos por parceiros da prefeitura, que não precisou desembolsar nada pela iniciativa.
Previsão. O feriado municipal da Imaculada Conceição deve ser de tempo nublado e com possibilidade de temporal em Belo Horizonte. A previsão, segundo o Instituto Tempo Clima PUC Minas, se estende até a próxima segunda-feira. O retorno das chuvas ainda provoca uma baixa nos termômetros. “Essa mudança se deve às áreas de instabilidade que ganharam força sobre o Estado, provocando pancadas de chuva, com trovoadas”, detalhou o meteorologista Heriberto dos Anjos.