Baseados em exemplos como o viaduto Itamar Franco, inaugurado em maio de 2013 sobre a avenida Tereza Cristina, no bairro Carlos Prates, na região Noroeste, e que já enfrenta congestionamentos, e o Batalha dos Guararapes – que desabou sobre a avenida Pedro I no último dia 3, matando duas pessoas –, arquitetos e urbanistas contestam a eficiência e a necessidade desses equipamentos para as grandes metrópoles. Acusando as estruturas de roubarem o espaço urbano, degradarem as cidades e ainda não solucionarem os problemas do trânsito, os profissionais defendem que os viadutos existentes sejam até demolidos para dar espaço aos pedestres e aos transportes coletivos. O assunto, no entanto, coloca arquitetos e engenheiros em lados opostos, já que esses últimos afirmam que, sem os equipamentos, o tráfego seria ainda pior.
O professor da Escola de Arquitetura da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Roberto Andrés explica que os viadutos compõem uma estrutura que privilegia o transporte individual, apenas conectando congestionamentos. “A cidade acha que resolverá o problema aumentando o espaço para os carros. Mas o efeito é exatamente o contrário. E, geralmente, a demolição é mais barata que a manutenção”, diz.
A possibilidade de um novo uso para os espaços dos viadutos também está descrita no artigo “Morte e Vida das Rodovias Urbanas”, do Instituto de Políticas de Transporte e Desenvolvimento (ITDP, na sigla em inglês). O trabalho traz exemplos de cidades como São Francisco e Portland, nos Estados Unidos, e Seul, na Coreia do Sul, que demoliram elevados, viadutos e vias expressas e os substituíram por parques e áreas para o transporte coletivo, bicicletas e pedestres.
“Quanto mais você aumenta a estrutura (para carros), mais você chega a um estado de saturação. Os viadutos logo passam a ser uma estrutura saturada. Eles não resolvem o problema”, afirma a diretora do ITDP, Clarisse Linke.
Em um cenário de 1,6 habitante para cada veículo motorizado, somente em Belo Horizonte, as alternativas dos arquitetos para os viadutos se baseiam em atitudes para desestimular o uso do carro. “Podemos restringir o estacionamento em vias públicas e aumentar o preço. Rever o código de edificações para que os apartamentos não tenham número mínimo de vagas, e ainda temos o pedágio urbano, que já é usado em Londres”, pontua Clarisse. “Com isso você abre espaço para outras coisas. No horário de pico, em São Paulo, os carros ocupam 78% das ruas, e os ônibus, 6%”, compara Andrés.
Questionada sobre uma penalização dos motoristas, Clarisse evoca a necessidade de todos fazerem a sua parte. “O efeito colateral causado pela utilização do carro afeta a população como um todo”.
Divergência. Na engenharia, a alternativa aos viadutos são os cruzamentos em nível, que, segundo especialistas, causam ainda mais retenções, e os túneis, muito mais caros para serem construídos. Mesmo concordando com os impactos negativos que essas estruturas causam no espaço ao seu redor e com a necessidade de investimentos no transporte público, engenheiros destacam que seu papel ainda é fundamental para a mobilidade urbana das grandes cidades.
“Tudo depende de planejamento. Temos a questão da beleza e da adequação ao meio ambiente. Mas os viadutos funcionam muito bem. O problema do engarrafamento não é o viaduto, mas sim o excesso de veículos”, avalia Luiz Silva Portela, membro da Sociedade Mineira de Engenheiros.
Lincon Dias Oliveira concorda que os viadutos se tornam estruturas saturadas em pouco tempo, mas pondera que as demolições seriam atitudes radicais. “Realmente fazer viadutos é trocar o congestionamento de lugar. Mas ele ainda é um mal necessário”.
Ele ainda ressaltou que em vias de circulação rápida, como a Via Expressa e a MG–010, na capital, a retiradas de viadutos inviabilizaria ao motorista fazer o trajeto em alta velocidade. “Nessas vias não pode ter cruzamento em nível porque os carros não podem ficar parando”.
Números
Viadutos. A Secretaria Municipal de Obras e Infraestrutura não soube informar quantos viadutos foram construídos em BH nos últimos dez anos. A pasta estima que existam 71 estruturas na cidade.