É verdade!

Ela ama cobras, mas já foi picada algumas vezes

Mônica ficou famosa depois de postar vídeo com bicho de estimação

Por Lucas Negrisoli
Publicado em 18 de setembro de 2020 | 03:00
 
 
 
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Com 59 anos, três jiboias em casa e mais de 8 mil mensagens recebidas nos últimos dias – Mônica da Cunha, a "moça das cobras" que passeia com os bichos no Centro de Belo Horizonte, é, além de um personagem mitológico da capital, um sucesso na internet. Depois de aparecer em um vídeo, na última segunda-feira, com “Tiopatinhas”, a jiboia mais velha que tem, com quase nove anos, na esquina entre as ruas Rio de Janeiro e Tupi, virou sucesso absoluto entre os internautas. 

Imediatamente, o perfil dela no Instagram, recheado com fotos e filmagens do cotidiano curioso de Mônica, passou a receber milhares de comentários. As reações flutuam entre o encanto e o pavor, muito parecidas com as que a mulher recebe nas caminhadas que faz pela cidade. 

"Essa daqui é a coronavírus, adquiri ela no tempo da pandemia, na época do coronavírus, por isso o nome", conta ela, mostrando uma cobra filhote, com pouco menos de um metro. Belohorizontina, Mônica desenvolveu o gosto por serpentes cedo – aos 20 anos, ganhou uma jiboia "enorme" de um amigo. Na época, ela trabalhava como escrivã em um cartório, junto ao pai dela e criou o bicho na casa dele.

Contudo, os animais ficaram mais presentes na vida de Mônica há nove anos, quando ela comprou a primeira cobra e levou para casa, um apartamento no Lourdes, região Centro-Sul, onde vive com o filho, o irmão mais velho, e a nora. "Levo para passear, vamos em shopping, levo elas no cinema, em igreja, batizado. Elas põem roupinha, cílios, iam em barzinho na sexta-feira. Veio a pandemia e quieto tudo, né?", conta.

Mônica se aposentou cedo, por invalidez, após ter problemas cardíacos e sofrer um derrame com 18 anos. Casou-se aos 16, mas se separou menos de dois anos depois. Teve um filho aos 30, e deixou "o cargo no Estado", como ela descreve o trabalho que fazia – uma vida cheia de acontecimentos, contudo, emoção alguma foi maior do que sua verdadeira paixão. "Gosto mais das cobras que de gente. Gente é invejosa, gente matou até o filho de Deus, quando estava na terra. Bicho nos dá carinho, amor", pontua.

Ela não esconde algumas marcas no corpo causadas por mordidas, mas nada muito grave. Os animais são calmos, segundo ela. Nunca atacaram ninguém nas ruas, nem a machuracam gravemente. "Minha conversa com animal é melhor que ser humano. Não dá certo comigo", defende. Questionada se ela permite que as pessoas peguem nos bichos, Mônica responde que o privilégio é para poucos. "Uma ou duas (pessoas) eu deixo pegar, mas não todo mundo".

Passeios

As jiboias não são colocadas em qualquer lugar para passear. Em locais "muito sujos", elas não tocam – os matagais do Centro, por exemplo. Em uma ou outra praça, como a que aparece no vídeo que viralizou, ela permite que os bichos se divirtam no gramado por algum tempo. Logo após, quando chega em casa, as cobras vão direto para o banho – que, sempre, é preparado com rosas.

"Depois passo hidratante, para elas poderem dormir, ou ver televisão. É igual der humano. Trabalha, pega poiera da rua, e se banha", afirma. Apesar de a fama ter chegado em cheio, a internet não foi maldosa com dona Mônica, segundo ela. Houve apenas dois comentários negativos em suas redes, os quais prontamente ignorou. "Todo mundo gostou. Nem dei resposta, cada pessoa tem um modo de pensar, né? Quem sou eu para ir contra", conclui.

Legalizadas

Mônica da Cunha garante que, além de dar amor e carinho às cobras, também as mantém saudáveis e legalizadas – coisa que prova apresentado à reportagem toda a papelada necessária para criar os bichos em casa. Um calhamaço de papel com quase cinquenta páginas, referentes aos três animais, que comprou no criadouro Jiboias Brasil.

"Muita gente não sabe, mas você pode ter em casa cobras, lagartos, papagaios, araras, desde que nasçam em um criatório licenciado pelo órgão ambiental. Se ele for regular, é só achar o animal que mais se adequa à sua realidade. Mas as cobras são bons animais de estimação, criadas com essa finalidade, não são retiradas da natureza e são acostumadas com o cuidado humano", explica o biólogo Tiago Lima, que é sócio proprietário do espaço em que Mônica adquiriu suas cobras, onde mais de 600 serpentes vivem.

Além de autorização do Instituto Brasileiro de Meio Ambiente (Ibama), as cobras precisam ter instalado um microchip de acompanhamento e nota fiscal emitida por um local certificado pela Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad). Há algumas espécies liberadas para o comércio no Brasil, mas nenhuma das cobras é peçonhenta, ou agressiva. Os preços do animal variam entre R$ 2.200 até quase R$ 10 mil, dependendo de qual tipo de cobra ou criadouro.

 

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