Antes de fechar a Embraforte, o empresário Marcos André Paes Vilhena e seus filhos compraram outras duas empresas de transporte de valores. Segundo depoimentos de funcionários à Polícia Civil, o dinheiro para as compras teria saído dos R$ 22,7 milhões supostamente roubados do Banco do Brasil (BB) em Minas Gerais. A Transsafe, no Rio de Janeiro, e a RRJ Transporte de Valores, em São Paulo, também são suspeitas de golpes semelhantes ao praticado em solo mineiro.
Desde quinta-feira, O TEMPO vem mostrando detalhes do inquérito que apurou o roubo ao BB e culminou no indiciamento e no pedido de prisão dos donos e do gerente da extinta Embraforte. A peça cita também a Transsafe, que já fechou as portas, e a RRJ, que estaria em crise.
Rio de Janeiro. A Embraforte comprou a Transsafe no primeiro semestre de 2013. Em novembro do mesmo ano, a nova empresa já era alvo de uma investigação por desvio de dinheiro de clientes (lotéricas e um posto de gasolina). Segundo o inquérito da Polícia Civil carioca, os vigilantes recolhiam dinheiro nas lojas, mas a Transsafe não repassava os valores para a Caixa Econômica Federal. O prejuízo seria de R$ 1 milhão. A corporação não informou se o inquérito foi concluído.
Parte do dinheiro desviado seria utilizado para esconder a fraude aplicada pela no Banco do Brasil. Na investigação feita pela polícia de Minas, a transportadora é acusada de abastecer os caixas eletrônicos do BB com valores menores que o indicado no sistema do banco. Um ex-operador de logística da Embraforte disse à polícia que, um dia antes das auditorias do banco, havia uma operação especial montada para abastecer os caixas eletrônicos antes da chegada da fiscalização. Parte desse dinheiro vinha do Rio. A Transsafe faliu em 2014 sem quitar as dívidas trabalhistas.
São Paulo. A única empresa do grupo ainda em operação é a RRJ Transporte de Valores. Ela foi comprada em novembro de 2013, logo quando o Banco do Brasil confirmou o roubo e apresentou uma queixa contra a Embraforte. Segundo funcionários disseram à polícia mineira, a empresa pagou R$ 10 milhões para adquirir a RRJ, com o dinheiro que teria sido desviado do BB.
Segundo o inquérito da Polícia Civil de Minas, logo após adquirir a RRJ, Marcos André Vilhena teria ordenado a transferência de dinheiro da empresa paulista para a Embraforte, mas teria sido impedido pelo diretor comercial, Domênico Peta, que alegou que os valores pertenciam ao Bradesco. Ele foi demitido, e o Bradesco teve que colocar um representante do banco dentro da tesouraria da RRJ para conferir todos os malotes e evitar roubos.
Saiba mais
Prisão. A promotora Nidiane Moraes ainda não analisou o pedido de prisão contra o empresário Marcos André Vilhena e seus filhos Pedro Vilhena e Marcos Felipe Vilhena, além de seu braço direito na Embraforte, Mário Pereira. A prisão foi solicitada pelo delegado Cláudio Utsch, que assumiu o caso em Minas.
Audiência. O deputado estadual Rogério Correia (PT) apresentou nesta sexta requerimento para audiência pública sobre as fraudes que teriam sido cometidas pela Embraforte. Serão convidados representantes do Ministério Público, da Polícia Civil e os empresários. Não há data marcada para a audiência.
Respostas. O Banco do Brasil enviou nota à reportagem em que afirma que “tomou as medidas administrativas e judiciais cabíveis para resguardar seus interesses. Quaisquer necessidades de informações adicionais devem ser encaminhadas às autoridades competentes pelas investigações”.
Demissões
No fim de 2014, a RRJ Transporte de Valores demitiu 508 funcionários, que tiveram que entrar na Justiça para conseguir receber as indenizações trabalhistas.
Loterias
A fraude de R$ 8,5 milhões da Embraforte contra a Caixa Econômica Federal também envolve prejuízos causados a donos de lotéricas de Belo Horizonte. O crime está sendo investigado pela Polícia Federal, que não repassa informações sobre o caso. Porém, o Sindicato dos Lotéricos de Minas informou que pelo menos dez lotéricas foram roubadas pela empresa em Belo Horizonte. Segundo a entidade, em um dos casos foram levados R$ 78 mil e, em outro, R$ 100 mil.