Traficantes que fugiram de favelas do Rio de Janeiro (RJ) nos últimos anos, durante a instalação das Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs), encontraram em Minas Gerais pontos estratégicos para ramificação de sua quadrilha. Sob o controle do Primeiro Comando da Capital (PCC) – facção criminosa de São Paulo que se articula de dentro dos presídios – e apoio de policiais civis e militares, o grupo formou bases no Sul fluminense e também nas cidades mineiras de Pouso Alegre, no Sul do Estado, e de Juiz de Fora, na Zona da Mata.
Ontem, o Ministério Público e a Polícia Civil do Rio realizaram a operação Adren, que até o início da noite havia resultado na prisão de 28 criminosos, entre os 40 mandados de prisão expedidos pela Justiça. Em Minas, a Polícia Civil de Pouso Alegre deu apoio na tentativa de localizar um dos líderes do bando, José Arimatéia Lima, conhecido como Lima. Ele é integrante do PCC e um dos chefes do bando no Sul fluminense. No entanto, ele e outros integrantes do grupo não foram localizados na cidade.
De acordo com as investigações, desde o início do ano passado, Pouso Alegre e Juiz de Fora eram utilizadas como ponto estratégico para comercialização e estoque das drogas. “Elas eram células importantes da quadrilha, tendo em vista a área estratégica que elas ocupam entre Rio e São Paulo”, contou o promotor Fabiano Oliveira, do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), do Ministério Público do Rio. A atuação do tráfico contribuiu para que a violência saltasse nas duas cidades no ano passado, conforme já relatado em O TEMPO.
Esquema. As investigações começaram há cerca de um ano, com a prisão de traficantes que denunciaram a quadrilha. Com a implantação de UPPs em favelas do Rio, um grupo de traficantes migrou para o interior fluminense. Como estavam sem drogas, armas e dinheiro, pediram auxílio a traficantes paulistas. “Eles fizeram uma dívida com o PCC, mas ela não foi paga e, então, o grupo paulista assumiu o controle do bando”, contou o promotor.
Em Minas, o mandado de busca e apreensão foi cumprido em um sítio de Pouso Alegre. No local, a polícia esperava encontrar drogas, mas nada foi achado. “Os suspeitos parecem ter se antecipado e retirado o material do local. Ainda temos dois mandados de prisão em aberto em Minas”.
Nome
Operação. O nome Adren vem de adrenalina. De acordo com os investigadores, é uma referência ao modo ágil como o grupo criminoso atuava, mudando facilmente de localização e subornando policiais.
Seis policiais
Civis. Além da prisão de traficantes, a operação também teve como alvo quatro policiais civis fluminenses, que, associados ao bando, transportavam e estocavam drogas em depósitos.
Militares. Outros dois policiais, militares, também são suspeitos de extorquir integrantes da quadrilha em troca de não prender os traficantes. De acordo com a investigação, os militares também teriam mantido integrantes do bando em cárcere privado e roubado objetos, como carros, eletrodomésticos e joias. A devolução de parte desses pertences era negociada entre traficantes e os militares.