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Família sai da lona e ganha casa 'de verdade' construída por alunos da Puc em BH

Projeto de arquitetura viabilizou um abrigo montável na Vila Fazendinha; ocupação deve ganhar novas construções em breve

Por Isabela Abalen
Publicado em 25 de abril de 2024 | 17:44
 
 
 
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Uma casa de madeira bem trabalhada, alta e arejada se destoa do entorno na Vila Fazendinha, na região Oeste de Belo Horizonte. É onde mora Maria Rosário dos Santos, de 73 anos. Acostumada a viver em uma cabana feita de lona há cerca de quatro anos, ter espaço para caminhar, sentar-se para comer e sentir-se segura independentemente do clima é digno do que chama de “casa de verdade”. A idosa e as duas filhas, de 33 e 18 anos, foram as beneficiadas de um projeto do departamento de Arquitetura e Urbanismo da Puc Minas. Foi a primeira vez que uma força-tarefa entre professores, alunos e comunidade criou do zero um “abrigo emergencial” fora dos muros da universidade. 

A moradia tem 30 m² divididos em cozinha, sala, banheiro e quarto. Os cômodos já são, por si só, novidade para a família, que era obrigada a amontoar as camas na cabana improvisada. Para melhorar a ventilação dos ambientes, a construção tem altura de três metros: no topo, foram feitos furos para entrada e escape de ar. “Dona Maria vivia com a lona colada com os vizinhos e, do outro lado, com uma praça. Isso dificultou a construção de janelas laterais. Os buracos do painel, no topo, fazem escapar o ar quente e melhoram o clima”, explica o coordenador do Laboratório de Experimentação Construtiva, o professor Hugo Matos. 

Toda a invenção da casa foi feita dentro da rotina acadêmica. Os materiais utilizados (madeira, aço e eucalipto roliço, por exemplo), além de sustentáveis e seguros, foram os possíveis de fabricar e montar pelo grupo do projeto. “Ao longo das oficinas, construímos a matéria prima em tamanho real. Foi tudo feito dentro da Puc. Escolhemos a madeira, que é de domínio dos alunos e que facilita a montagem. Não usamos concreto, cimento, mas parafusadeira. Praticamente, não houve gasto de água”, diz o professor. 

Se a fabricação da casa durou certa de um ano, a montagem não passou de três dias. A rapidez foi motivo de felicidade para a filha mais nova da dona Maria, que vive com sequelas de falta de oxigenação do cérebro durante o parto. “Ela tem cabeça de criança. Quando via o professor aqui em casa, todo dia, só falava que queria entrar em casa”, brinca a mãe. Para quem veio de Santa Efigênia de Minas, na região do Rio Doce, em busca de uma vida melhor, o sonho parece um pouco mais próximo.  

“Nós somos felizes demais vivendo aqui. Tem espaço para todas nós, e, vou te falar, foi muito bom. Uma benção que Deus guiou no nosso caminho. Eu já não sabia o que ia fazer”, celebrou a moradora, dando o selo de sucesso para a construção dos acadêmicos da Puc. Dona Maria foi indicada pela comunidade da ocupação Vila Fazendinha, que conta hoje com cerca de 56 moradores, pelo nível de vulnerabilidade. A construção se adequou ao sistema de luz, água e esgoto já existente no local. 

Para o coordenador Hugo Matos, o projeto foi uma oportunidade do conhecimento produzido na Puc Minas chegar até a sociedade. “A Vila Fazendinha fica muito próxima da Puc. É papel da academia alinhar o conhecimento com a prática e alcançar os grupos sociais vulneráveis. Além dos alunos colocarem a mão na massa, o curso teve uma função social”, afirmou. 

Novas construções à caminho 

A casa de Dona Maria não será a única construção inovadora da ocupação da região Oeste de BH. De acordo com Matos, alunos, dessa vez da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), estão criando um mudário. A infraestrutura vai abrigar a horta da Vila Fazendinha, com direito a quarto de ferramentas e outras construções. 

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