Antes das 4h da manhã, o som das matracas já ecoava pela cidade histórica de Sabará, na região metropolitana da capital, acordando os moradores para a procissão que começaria em breve. Cerca de 3.000 fiéis se concentraram na Igreja São Francisco de Assis, no centro, e seguiram até a região do Morro da Cruz, totalizando um percurso de 2 km feito em quase duas horas.
Durante o trajeto, os devotos reviveram os últimos momentos de Cristo com as 14 estações da Via Sacra, que lembram o caminho feito por ele enquanto carregava a própria cruz. A cada parada, os fiéis ouviam um trecho da Bíblia, lido por um padre, e faziam orações. Logo seguiam cantando e carregando a imagem de Nossa Senhora das Dores. Outros santos também foram representados, levados por religiosos como forma de pedido ou penitência.
O pároco da Igreja Nossa Senhora do Rosário, Rogério Messias, ressaltou o valor popular dessa tradição, que acontece há mais de 200 anos. “É uma caminhada espontânea. As pessoas acreditam na libertação dela. Não é apenas sacrifício, é um ato de agradecimento e louvor a Deus”. Mesmo tendo pela frente um caminho complicado, com uma ladeira íngreme e extensa na rua Santa Cruz, os católicos dizem que a caminhada vale a pena, como é o caso da doméstica Rosângela Maria Valeriana. Descalça, ela percorreu todo o trecho para pagar uma promessa que fez pelos filhos. “Eu vim para agradecer e não foi tão difícil”.
Um altar improvisado à frente da Capela do Senhor Bom Jesus, no alto do Morro do Cruz, recebeu as imagens santas e as velas dos fiéis. A capela está interditada pela Defesa Civil por problemas nas paredes e no telhado e ainda não há previsão de reabertura.
Herança. Francisco Dário, 42, tem orgulho do ofício que herdou do pai e do avô. Ele é matraqueiro desde “criança pequena”, mas reclamou da falta de participação da juventude na tradição. Ontem, apenas três pessoas tocavam o instrumento. “Eu queria que fosse mais valorizado. É muito gratificante participar da cerimônia e poder servir à Igreja”, contou.
Vigília
Significado. A Sexta-Feira Santa simboliza momento de reflexão para os católicos, pois lembra o sofrimento e morte de Jesus na cruz. Os fiéis realizam a vigília e não são celebradas missas.