“Ninguém me queria”. Esse sentimento de rejeição foi sentido pelo estudante de engenharia metalúrgica da Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop), na região Central de Minas Gerais, de 22 anos, Cláudio Ribeiro. O jovem, assumidamente homossexual, aproveitou o Dia do Orgulho Gay, comemorado nesta semana para desabafar. Ele não se “encaixava” em nenhum dos perfis para ser escolhido como o novo morador de uma das repúblicas federais da cidade. Em seu blog, descreveu como a segregação acontece.
“Dos argumentos mais usados, alguns homens dizem se sentir desconfortáveis de se trocar na frente de um homossexual, como se uma pessoa gay jamais tivesse visto um homem pelado na vida ou como se todos os heterossexuais provocassem uma atração violenta em homossexuais que os fizessem tornar-se predadores sexuais automaticamente”.
A experiência de Ribeiro gerou uma discussão em um grupos de estudantes da universidade nas redes sociais e acabaram por motivar um protesto, para que a instituição se posicione contra a violência, ainda não criminalizada no país. “Quando eu vim para a cidade eu já sabia dessas mazelas. Isso é tradicional na cidade (...) não tem gay assumido em nenhuma república federal”, confirmou um estudante de museologia da Ufop, de 25 anos, que pediu para não ter o nome divulgado.
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Desabafo na internet estimulou outras pessoas a denunciarem violência |
Durante o protesto, na manhã desta sexta-feira (27), em frente ao restaurante universitário no campus Morro do Cruzeiro, os estudantes estarão colhendo depoimentos de vítimas de preconceito e a ideia é organizar um documento para ser entregue a reitoria da instituição.
FOTO: Webrepórter |
"Bichaço" reuniu cerca de 150 pessoas na Ufop |
Jovens gritaram palavras de ordem durante o ato. Assista:
FOTO: Webrepórter |
"Bichaço" reuniu cerca de 150 pessoas na Ufop |
“Não sei o que é pior, esse preconceito latente ou a universidade fechar os olhos para esta questão (...) Sou um fundador de uma república gay e, há quatro anos, acolho quem passa por isso (homofobia)”, revelou um morador da cidade, que preferiu não se identificar.
A universidade se defendeu, dizendo que nunca recebeu denúncias de homofobia. De acordo com o pró-reitor de assuntos comunitários e estudantis, Rafael Magdalena, há um estatuto, um processo de avaliação em que o candidato à moradia preenche uma ficha e os membros da república, bem como uma equipe que acompanha todos os cadastros e há uma página para denúncias.
“Claro que nós somos completamente contra e, se chegar um documento do candidato de que sofreu uma discriminação, a instituição vai abrir um processo par apurar. Mas, até o momento, nós não recebemos nada (...) Sem denúncia, o caminho que nós temos é educativo, pois sem a materialidade não dá para apurar”, afirmou Magdalena.
A pró-reitoria conta com projetos de acolhimento e atendimento aos estudantes, inclusive com apoio psicológicos.
Contudo, conforme Ribeiro, denunciar não é tão simples. A represália pode ser ainda maior aos que reclamam das agressões. “Fui aconselhado por amigos que já moravam aqui que não seria bom para mim. Se eu entrasse em uma república por ter reclamado com a faculdade, o tratamento lá não seria legal”, justificou.
Há projetos no tramitando no Congresso Nacional, mas a homofobia ainda não é crime no Brasil. Porém, atos dessa natureza são repudiados em todas as esferas da sociedade.
Atualizada às 13h46