A Polícia Civil instaurou inquérito para investigar a morte do torcedor Eros Dátilo Belizardo, 37, na última quarta-feira, no Mineirão, no duelo entre Cruzeiro e Grêmio, pela Copa do Brasil. Segundo testemunhas, o cruzeirense foi agredido por seguranças ao tentar passar de um setor para outro do estádio.
Embora o Hospital Odilon Behrens – para onde o torcedor chegou a ser encaminhado, já sem vida – tenha informado que Eros apresentava “múltiplos traumas”, o Instituto Médico-Legal (IML) informou que as lesões não causaram a morte e que será preciso uma avaliação mais minuciosa.
“Segundo a diretora do IML, a médica legista Lena Lapertosa, o corpo apresentou sinais externos de trauma, no entanto, essas lesões não justificam o óbito. Por essa razão, será necessária a realização dos exames anatomopatológico e toxicológico, que já estão em curso. O prazo para conclusão dos exames é de 30 dias”, informou o IML, em nota.
De toda forma, o caso já está a cargo do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) como “morte a esclarecer”, sob responsabilidade do delegado Luis Otávio Mattozinhos. Ele já colheu os primeiros depoimentos. As imagens das câmeras de segurança foram disponibilizadas pela Minas Arena ainda na noite de quarta.
Amiga de Eros, a cuidadora de idosos Alexsandra Luciana de Abreu é uma das testemunhas do caso. Ela estava com o torcedor quando ele tentou passar pela grade que separava o setor Vermelho Superior do Laranja Inferior, onde estava a namorada dele (veja arte abaixo).
“Acho que o segurança pensou que a gente ia invadir, e um deles, já foi dando um mata-leão (uma gravata) no Eros. Começaram a puxá-lo para dentro de um quartinho. Depois, chegou outro segurança, dando apoio. O Eros tentou sair, mas não conseguia. Taparam a boca dele, asfixiando-o, e começaram a dar socos em sua cabeça. Uns 15 segundos depois, já o vi desmaiado”, contou.
No boletim de ocorrência, um dos seguranças que se envolveram no caso alegou que, durante tentativa de invasão de setor, foi agredido e reagiu usando de força física. Ele disse ter imobilizado o homem, que se sentiu mal durante a abordagem, e que o levou para atendimento médico.
Em nota, a Minas Arena lamentou a morte do torcedor. “A concessionária, que administra o estádio, tem total interesse no esclarecimento do assunto de forma séria e verdadeira, acompanha de perto e aguarda a apuração dos fatos pelas autoridades competentes”, ressaltou.
A Prosegur, empresa terceirizada contratada pela concessionária para o serviço de segurança, também se posicionou. “A companhia ressalta que está colaborando com as autoridades na investigação dos fatos”, disse, em nota.
Por justiça
Amigos e parentes estão indignados
Eros Belizardo era diretor da organizada Pavilhão Independente. Nessa quinta-feira (27), amigos e integrantes de outras torcidas prestaram homenagens ao cruzeirense e cobraram punição aos possíveis responsáveis. “Fica aqui toda a nossa revolta e indignação com esse ato covarde. Esperamos que a justiça seja feita”, publicou a Máfia Azul Revolução.
Eros era entregador e morava sozinho na região Leste de Belo Horizonte. Os pais já são falecidos. Ele deixa uma filha de 2 anos. A atual namorada está grávida de um filho dele. “Ele era um cara bacana. Semana passada estávamos em um casamento de um diretor da torcida com ele”, conta o amigo Álvaro Cardoso.
Eros fazia musculação e era lutador de muay thai, o que deixou o amigo intrigado sobre a forma com que foi supostamente dominado. “Não estava lá mas, com certeza, o pegaram pelas costas, porque ele saberia se defender”, destacou.
O torcedor tinha seis passagens no Juizado Especial Criminal e já tinha sido indiciado por violência doméstica. O corpo seria liberado nessa quinta-feira (27) à noite para o enterro nesta sexta-feira (28), no cemitério da Saudade. (TN/BI)
Posição do clube
“A diretora do Cruzeiro Esporte Clube viu com grande tristeza a notícia sobre a morte do torcedor Eros Dátilo, no estádio do Mineirão, durante a partida contra o Grêmio. O clube está acompanhando de perto os esclarecimentos do fato para que toda a sociedade possa ser informada sobre os motivos que levaram o nosso torcedor a óbito. À família de Eros Dátilo fica a solidariedade de todos do Cruzeiro Esporte Clube em um momento de imensa dor.”
Cruzeiro Esporte Clube
Nota oficial
Informação oficial
“O paciente deu entrada às 23h07, encaminhado via ambulância. O paciente chegou ao hospital já sem vida – apresentando múltiplos traumas –, e o óbito foi declarado às 23h16.”
Hospital Odilon Behrens
Nota oficial
“O corpo apresentou sinais externos de trauma, no entanto, essas lesões não justificam o óbito. Por essa razão, será necessária a realização dos exames anatomopatológico e toxicológico.”
Instituto Médico-Legal
Nota oficial
Opinião de especialista
Segurança privada deve ser treinada
Para o professor do Centro Universitário Una Jorge Tassi, especialista em segurança pública, o advento da segurança privada nos estádios, proporcionado principalmente pela construção das novas arenas, ainda precisa ser discutido pelos pontos de vista da competência e da capacitação.
Os estádios e as partidas de futebol são eventos privados e, por isso, não são atribuições da Polícia Militar. “A gestão pública não tem condições de oferecer isso. Se uma empresa oferece atividade de risco, é ela quem deve oferecer segurança”, destacou.
Para lidar com torcedores, muitas das vezes, alimentados por emoções exacerbadas de uma partida de futebol, é preciso muito treinamento.
“A segurança no estádio é algo muito complexo e precisa ser bem-coordenada. Hoje, quem melhor faz isso são polícias especializadas, comandos táticos e batalhões de choque. Não é para qualquer um, não pode ser uma cópia de um policial de rua. Ele tem que saber lidar quando é agredido, ouvir, tolerar. No esporte, existe muita rivalidade”, destacou o especialista.