A possibilidade de não conseguir atendimento médico de urgência para a filha de 5 anos tem atormentado a vida da autônoma Juliana Félix, 24. O drama dela é vivido por várias outras mães que dependem da saúde pública em Belo Horizonte. Referência no serviço pediátrico do Estado, o Hospital Infantil João Paulo II, localizado no bairro Santa Efigênia, na região Leste de Belo Horizonte, está com os atendimentos na urgência reduzidos e pode ter o setor fechado em agosto caso não haja a contratação de novos médicos, segundo a direção. Na rede pública da capital, apenas o hospital Odilon Behrens tem serviço semelhante.
“Adoro o atendimento do Hospital Infantil João Paulo II. Eles têm bons profissionais e são especializados. Minha filha tem uma série de problemas de saúde, e não sei o que vou fazer se o hospital parar de funcionar”, explica Juliana. Na manhã desta segunda, ela levou a filha, com febre muito alta, a uma Unidade de Pronto-Atendimento (UPA), que encaminhou o caso ao João Paulo II. Na portaria, a autônoma foi informada de que não poderia ser atendida. “Não sabia o que fazer. Ia voltar para a UPA?”, questionou.
Nesta segunda o hospital, que atende crianças da região metropolitana e do interior de Minas Gerais, recebeu pacientes apenas até as 13h, e dezenas de crianças ficaram sem atendimento.
Reivindicações. A administração do hospital informou que, devido à baixa no efetivo nos últimos sete anos e à precariedade das instalações, pode ter que suspender o serviço de emergência. “Se não houver concurso público (para médicos) neste mês, não será mais possível continuar o trabalho”, afirmou Rosiléa Alves, diretora clínica da unidade.
A médica explica que profissionais da equipe foram se aposentando, alguns foram exonerados, e outros saíram da unidade por insegurança e falta de condições de trabalho. “Chegamos a um ponto em que não pedimos nem aumento, precisamos de medidas efetivas, como concurso com chamada imediata de no mínimo mais 45 médicos para o hospital”, reivindica Rosiléa.
Os funcionários do local também pedem uma reforma do Centro Mineiro de Toxicologia – que funciona ao lado do pronto-atendimento do João Paulo II – para que ele passe a abrigar a emergência; e o término de uma obra de substituição das enfermarias, que já dura mais de três anos.
A presidência da Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais (Fhemig) e a diretoria do hospital informaram, por meio de nota, que irão manter de forma plena o atendimento de pacientes graves e com doenças complexas e raras.
A fundação se comprometeu a empreender esforços para que, junto aos gestores municipais e estaduais, consiga manter aberto o pronto-atendimento da unidade de saúde para casos menos graves.
Defasagem
Profissionais. A emergência do hospital funciona com apenas seis médicos. De acordo com a diretora clínica da unidade, o ideal para suprir a demanda no pronto-atendimento seria contar com ao menos 35 profissionais.