Origem

Lendas permanecem vivas 

Apesar de ninguém saber dizer ao certo como foi criado o Cemitério do Peixe, crenças sobrevivem

Por Bárbara Ferreira
Publicado em 23 de novembro de 2014 | 04:00
 
 
 
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A história do vilarejo do Peixe começa no século passado, quando o local se tornou ponto de parada dos tropeiros e fez parte da rota do ouro e do diamante. O local foi ficando povoado aos poucos, mas as origens sobre o atual vilarejo giram em torno do Cemitério do Peixe, construído em meados de 1905 e onde foram enterrados os corpos de diversos moradores da região. Foi a partir da construção dele e da capela de São Miguel Arcanjo que se iniciou a tradição do jubileu, que teve a primeira missa celebrada em homenagem a um soldado morto que teria sido enterrado ali, segundo a lenda. A partir de então, sempre em agosto, romeiros retornam para celebrar as almas e rezar para o santo.

De acordo com o padre Mauro Carvalhais, que acompanha a história do local há anos e é um dos organizadores e celebradores do jubileu, esse era um local destinado ao descanso dos tropeiros desde 1890 – e, aos poucos, o movimento foi aumentando. “Um dos grandes fazendeiros da região, Antônio Francisco Pinto, conhecido como Caniquinho, pediu um destacamento para manter a ordem. Vieram alguns soldados, e um deles morreu aqui. Fala-se que ele comeu peixe envenenado, mas ninguém sabe ao certo. Caniquinho mandou enterrá-lo nessas terras e começou então a visitação”, explica o padre.

Moradora mais antiga do local, Carlota Oliveira Brandão, 64, a dona Lotinha, acredita que, antes mesmo da chegada dos soldados, já havia um padre enterrado ali. “A história que meu pessoal contava é que vinha um padre de Pirapama para Conceição do Norte, dois distritos da cidade. À época ele teve uma febre brava e morreu. Aqui era mato puro, mas limparam e o sepultaram. A missa foi um pedido de Caniquinho, em homenagem ao padre, no cemitério mesmo. Ainda não tinha a igreja, mas foi assim que tudo começou”, relata a moradora.

A bisavó dela foi uma das responsáveis pela construção do cemitério, que ainda conserva parte dos muros de pedras de então. A partir disso, algumas das terras foram doadas à igreja, e outra parte era da família de dona Lotinha. “As primeiras casas daqui também eram dos meus tios, que tinham morada perto daquela árvore grande”, conta, apontando para o local. Todos foram enterrados no cemitério.

Aos poucos, os romeiros que iam ao local em agosto para rezar pelas almas e por são Miguel foram construindo as casinhas. Atualmente, são cerca de 220, pintadas pelos próprios romeiros, que capinam o entorno e cuidam da limpeza. No entanto, essa manutenção só é feita nas vésperas do jubileu. No restante do ano, é dona Lotinha quem cuida da igreja, do cemitério e ainda da casa paroquial.

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