A médica acusada de integrar a quadrilha que extorquiu e matou dois empresários no bairro Sion, região Centro-Sul de Belo Horizonte, em 2010, foi condenada a 46 anos e seis meses de prisão pelos crimes de formação de quadrilha, extorsão, cárcere privado, homicídio triplamente qualificado e destruição e ocultação de cadáver. Ela poderá responder em liberdade por ser ré primária.
Em depoimento, a médica entrou em contradição em seu interrogatório nesta terça-feira (31). Ela havia afirmado que não tinha visto uma das vítimas amarradas, mas ao ser confrontada pelo promotor, voltou atrás e pediu desculpas por ter ocultado a informação.
Durante o interrogatório, Gabriela Ferreira da Costa, de 31 anos, afirmou que foi obrigada a fazer saques nas contas das vítimas e que conheceu o chefe da quadrilha, que iria ser seu sócio na clínica, por meio da irmã dele. Segundo a médica, um mês antes do crime, o líder do bando começou a ameaçá-la e a ferir seus parentes e amigos. Ela disse também que não procurou a polícia porque ele a teria feito acreditar que era influente e intocável, e que ela era vigiada o tempo todo por integrantes da quadrilha.
Ainda durante o interrogatório, a médica disse que o líder da quadrilha sabia do trauma que ela tinha em relação a sequestro relâmpago e contou que ele disse a ela coisas como "sua alma é minha" e "vou ter um filho por inseminação com você". A defesa ainda pediu para que o depoimento da fase judicial fosse lido integralmente. Gabriela disse que foi chamada para assistir a agressão ao ex-sócio do mandante do crime para constatar a ameaça de como o líder do bando tratava quem o traía.
Durante a fase de debates, que começou às 13h30, o promotor do caso acusou a ré de mentir para não sofrer sanções, como o resto da quadrilha. Para Francisco Santiago, a médica agiu motivada pelo o que ele chamou de "dinheiro sujo do crime".
Santiago afirmou que não acredita que Gabriela era coagida pelo chefe a quadrilha. Para ele, a médica tinha conhecimento de todo o esquema.
Defesa
Em sua argumentação, o advogado da médica, Arthur Kalil, citou o laudo psicológico do mandante do crime e disse que Gabriela presenciou torturas sofridas pelo ex-sócio do acusado. Ainda segundo o advogado, a médica não tinha condições psicológicas de denunciar o plano.
Kalil argumentou também que não há provas de que a médica participou de todos os crimes que envolveram a quadrilha. Segundo ele, só é possível comprovar que ela fez a movimentação nas contas bancárias das vítimas.
Julgamento
O julgamento de Gabriela Ferreira da Costa, de 31 anos, que atualmente mora e trabalha em Niterói, no Rio de Janeiro, começou na manhã desta terça, no Fórum Lafayette. Ela responde pelos crimes de homicídio qualificado, cárcere privado, extorsão, ocultação de cadáver e formação de quadrilha. O júri é composto por seis mulheres e um homem, que irão decidir se ela será condenada ou absolvida das acusações.
O promotor do Ministério Público Francisco Assis Santiago disse que espera que Gabriela seja condenada a mais de 30 anos de reclusão e que ela saia presa do Fórum. Ela é uma das oito pessoas acusadas de envolvimento na morte dos empresários Rayder Santos Rodrigues, 39, e Fabiano Ferreira Moura, 36, das quais cinco já foram julgados e condenadas. Os empresários tiveram as cabeças arrancadas do corpo no dia do crime.
A primeira testemunha de defesa ouvida foi o ex-sócio do líder da quadrilha. Ele disse que foi agredido quando decidiu terminar a sociedade em uma empresa de comunicação que tinha com ele. Já a segunda testemunha é uma funcionária do presídio de Ribeirão das Neves, que conheceu Gabriela quando ainda era diretora de atendimento e ressocialização do presídio de São Joaquim de Bicas.
A médica havia sido encaminhada ao presídio para se afastar do assédio da imprensa e ajudar no atendimento médico aos presos. Segundo a testemunha, depois que ela foi liberada, voltou ao presídio para trabalhar como voluntária.
Atualizada às 14h42.