Perciliana de Lourdes Cândido, 58, só estudou até a 4ª série. Os três filhos dela, todos com mais de 25 anos, foram até o ensino médio, mas não fizeram faculdade. A necessidade de trabalhar desde cedo e a falta de interesse nos estudos contribuíram para o quadro, segundo ela, que mora na vila Bom Destino, em Santa Luzia, na região metropolitana. Currículos semelhantes são comuns nesse e em outros bairros com baixos Índices de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHMs).
As dificuldades vão da infância, fase em que 36% das crianças de 5 a 6 anos ainda não estão na escola, e se refletem na idade adulta, quando menos de 1% das pessoas com mais de 25 anos completou o ensino superior. Nas oito Unidades de Desenvolvimento Humano (UDHs) – um ou mais bairros – de Santa Luzia, que apresentam o menor IDH da região metropolitana, apenas 0,59% dos adultos tem ensino superior completo; enquanto na região metropolitana o índice é de 15,05%; e nos bairros com o maior IDHM (Santo Agostinho e Lourdes, na região Centro-Sul da capital), 70,72% completam a graduação na mesma faixa etária.
Entre os adolescentes de 15 a 17 anos, que já deveriam estar no ensino médio, mais da metade (53%) não concluiu o ensino fundamental. Cerca de 70% com 25 anos ou mais continuam sem concluir o fundamental, e só 17% já completaram o ensino médio. “E essa é uma faixa de idade em que dificilmente a pessoa vai voltar à escola”, afirma o pesquisador da Fundação João Pinheiro, Fernando Prates.
Mercado. Sem qualificação, homens vão parar na construção civil, e as mulheres viram domésticas. “Baixa escolaridade e colocação resultam em baixos salários”, disse o mestre em demografia e doutor em sociologia André Junqueira Caetano. Não é à toa que a renda mensal familiar per capita (dividida entre os membros da família) nas oito UDHs de Santa Luzia é de R$ 352,34, o que corresponde a um quarto da renda média da capital, que é de R$ 1.497.
Para manter a família, Perciliana faz marmitex e vende produtos para casa em uma pequena loja, alugada. Ela disse que tira mensalmente o suficiente para pagar os investimentos na loja e manter o negócio. O seguro-desemprego do marido vem ajudando a suprir a casa.