Escolas inovadoras

Modelo para inspirar o ensino 

Especialistas afirmam que métodos diferenciados ensinam os estudantes a aprender

Por José Vítor Camilo
Publicado em 08 de fevereiro de 2016 | 04:00
 
 
 
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Embora causem desconfiança em muitos pais, os métodos diferenciados de ensino de instituições como a Escola Municipal João Pio, em Tiradentes, no Campo das Vertentes, são bem aceitos por pedagogos, que acreditam que os modelos poderiam inspirar mudanças e até trazer mais qualidade ao ensino público. Para a professora Soraia Freitas Dutra, do centro pedagógico da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), o ensino básico tradicional é mais focado na leitura e na escrita, esquecendo-se de habilidades mais sensíveis das crianças.

“Quando se usa a curiosidade natural dessas idades, amplia-se as leituras de mundo, que é o sentir, o viver, o ver, coisa que as escolas comuns não privilegiam tanto”, defende.

Segundo a especialista, as escolas democráticas não só não prejudicam o futuro dos estudantes nas instituições de ensino tradicionais, como ajudam a desenvolver futuros pesquisadores. “Quando o estudante é instigado a conhecer e a investigar, ele adquire uma série de habilidades que permitem não somente sair de lá lendo, mas desenvolve a autonomia no aprendizado. Ensina a pesquisar”, acredita.

Soraia considera ainda que o modelo de repetição de conteúdo, que para ela resume a metodologia da escola comum do país, é muito menos consistente do que os métodos alternativos. “Esses projetos mais ousados são muito mais eficientes no que se refere à formação. Os alunos dessas escolas aprendem a aprender. Se, no futuro, houver alguma dificuldade em alguma área específica, por exemplo na matemática, um cursinho pode resolver a deficiência”, afirma.

Ponderação. A psicóloga e pedagoga Sônia Flores, mestre em mídia e educação, acredita que as escolas democráticas são “um ideal”, mas pondera que elas devem vir acompanhadas de profissionais bem preparados para orientar as pesquisas das crianças.

“Motivação para aprender as crianças têm, mas é preciso um acompanhamento sério. Seguindo a lógica do interesse do aluno, um cronograma e o que seria ensinado em uma determinada série, qualquer coisa pode ser ensinada a qualquer hora. A não ser que seja algo sequencial, como matemática”, diz.

Apoio

Pais. Conforme Sônia Flores, o apoio dos pais ao método pedagógico é importante. “Eles precisam comprar a ideia para não ficar inseguros. É certo que os filhos aprenderão, e com prazer”.

Alguns colégios que usam métodos não tradicionais

Escola da Ponte (Portugal). Fundada em 1976 pelo professor José Pacheco, em Porto. Atende crianças de 5 a 13 anos com base nas chamadas “escolas democráticas”.

Projeto Âncora (Cotia/SP). 0Surgiu em 1995 como uma associação civil voltada para a população carente. Em 2012, a escola fundamental foi criada, também com base na escola portuguesa. A instituição, que hoje troca experiências com a escola João Pio, de Tiradentes, por conferências virtuais, acredita que uma prática educacional acolhedora e participativa permite que as pessoas sejam “felizes e sábias”.

Escolas Waldorf (por todo o mundo). A Pedagogia Waldorf foi criada em 1919 pelo filósofo alemão Rudolf Steiner. Também é focada na individualidade dos alunos, ensinando conforme o ritmo de desenvolvimento físico, intelectual e espiritual dos alunos. Conta com o ensino fundamental e médio, ensinando, além das matérias tradicionais, música, teatro, jardinagem e até marcenaria.

Escola da Serra (BH). Instituição particular na região Centro-Sul que também integrou o mapeamento do MEC. Em 2014, eliminou os muros da setorização por idade e passou a funcionar na lógica do ciclo, respeitando ritmos e propósitos individuais.

Conhecer Educação e Cultura (Leopoldina/MG). Escola particular da Zona da Mata que também entrou no mapa do MEC. Tem salas com mesas para trabalho em grupo, favorecendo a interação entre os alunos de diferentes idades.

História de uma aluna ‘que deu certo’

Após estudar do ensino fundamental ao médio em uma escola da pedagogia Waldorf, a engenheira civil Carolina Saviotte, 33, conta que só pegou em caneta comum no vestibular. No começo, escrevia com lápis de cor, em caderno sem pauta, tudo, segundo ela, “muito colorido”. Foi na 6ª série, que usou a primeira caneta, mas no modelo tinteiro, de pena. “Aprendemos a tabuada com cantos, tínhamos aula de teatro, aquarela, tricô, tear, desenho e flauta. Fazíamos pão, aula de argila e vários esportes. Futebol era proibido. Também tinha uma horta e separávamos o lixo reciclável”, lembra.

Um único professor ensinou todas as disciplinas, além de inglês e espanhol. Ela não fez provas, sendo avaliada apenas pelo professor. “Descobri que existia vestibular no 2º ano. Houve uma tensão, mas, na escola, ouvia que o vestibular era só um passo, não a linha de chegada. Deu certo, aos 17 entrei para uma faculdade federal sem passar por cursinho ou pressão”, disse .

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