As malas prontas ao lado da cama da contadora Anna Paula dos Santos, 24, moradora de Barão de Cocais, na região Central do Estado, denunciam o medo que toma conta de cerca de 9.000 pessoas que estão em zonas de perigo na cidade. Desde que o risco de rompimento da Barragem Sul da mina do Gongo Soco subiu para três, na última sexta-feira (22), moradores da cidade têm se revezado em turnos para vigiar o possível rompimento. Segundo a Defesa Civil, eles teriam 1 hora e 12 minutos para se salvarem.
"A nossa sensação é a de que para eles nós somos apenas números, pessoas que podem ser trocadas por dinheiro. Acontece que nós somos uma comunidade. O rio passa atrás da minha casa. Se romper, leva tudo o que é nosso. Não é só questão material, mas é sentimental. A nossa vida está aqui e nós vamos perder tudo se a barragem romper. Meu pai perde a oficina dele. Nós estamos com as malas prontas, sem dormir, de prontidão. Até quando vamos ter que viver assim?", questionou.
Maxwell Andrade, 31, servidor público, tornou-se o líder comunitário da vila São Geraldo desde o dia 8 de fevereiro, quando 454 pessoas que estavam em área de risco foram evacuadas na região. Ele se divide em turnos com um vizinho para vigiar a área todas as noites. "Uma total falta de consideração, a gente está preocupado, o fato de ele ter explicado não tira o nosso medo, nós estamos numa área que pode ser inundada, a gente não sabe a quantidade de material, o que pode acontecer, essa questão do tempo é relativa. A gente vê a distância entre uma comunidade e outra, algo relativamente muito longo, será que vai dar tempo de a polícia deslocar de um lado para o outro? São questões que vão permanecer enquanto a barragem existir. Até lá, ninguém dorme”, contou.
Na tarde deste sábado (23) cerca de 100 moradores da chamada "zona secundaria", que tem 3.000 residências, foram ouvidos pelo tenente coronel Flávio Godinho, chefe da Defesa Civil Estadual, e representantes dos bombeiros, da prefeitura e da Polícia Militar. Emocionados, eles pediram que os órgãos públicos não os desamparem e auxiliem para que eles sejam salvos em caso de rompimento da barragem. Durante as falas, um dos moradores gritou: "é, porque pra eles, se virarmos difuntos, eles compram", disse em referência a mineradora Vale, que não participou da reunião. De acordo com a Defesa Civil, entre domingo e segunda-feira, a população afetada receberá treinamento de como agir em caso de rompimento. Eles passarão por uma simulação do passo a passo de uma ocasião de risco.